terça-feira, 6 de setembro de 2011

ANEMIA HEMOLÍTICA IMUNOMEDIADA E TROMBOCITOPENIA EM CÃO – RELATO DE CASO .

A anemia hemolítica imunomediada (AHIM) é caracterizada pela destruição de eritrócitos, devido à presença de anticorpos aderidos a membrana eritrocitária. A lise dos eritrócitos pode ocorrer pela ação de imunoglobulinas ou pelo sistema complemento, caracterizada por hemólise intravascular, ou pela ação do sistema monocítico fagocitário, hemólise extravascular. Isso pode ocorrer devido à presença de vírus, parasitas sanguíneos, toxinas, vacinas, drogas ou como uma reação imunomediada idiopática.

A trombocitopenia auto-imune é encontrada em cerca de 60% dos casos de cão com AHIM (Síndrome de Evans), muitas vezes agravando o quadro de anemia. Os valores absolutos estão abaixo de 200.000 trombócitos/mm³, porém em alguns animais, os sinais de hemorragias podem aparecer apenas quando esse valor cai abaixo de 30.000 trombócitos/mm³.

Os achados laboratoriais comumente encontrados no cão com AHIM são, anemia regenerativa (macrocitose, policromasia e anisocitose) com hematócrito inferior a 15%. Além disso, leucocitose neutrofílica pode ser encontrada em variados graus de acordo com a gravidade da AHIM.

Vacinas contra adenovírus tipo 2, leptospirose, parainfluenza e parvovirose, têm sido relacionadas com o desenvolvimento de anemia hemolítica imunomediada em cães e no homem.

Anemia hemolítica e trombocitopenia são achados rotineiros na clínica veterinária, e podem ser decorrentes de diversas patologias. Este trabalho tem por objetivo relatar um caso de trombocitopenia e anemia hemolítica imunomediada e conseguir alertar os clínicos para a realização de uma boa anamnese e coleta de informações que possam auxiliar no diagnóstico diferencial dessa patologia.

RELATO DE CASO

Um cão, macho, 3 anos de idade, da raça maltês, foi apresentado no hospital veterinário de Uberaba em maio de 2006, com histórico de prostração, anorexia, hematêmese, hematoquezia, hematúria e anemia.

O cão já estava sendo tratado com doxiciclina, e havia sido submetido à transfusão de sangue total há 5 dias. Ao exame físico o animal apresentava mucosas hipocoradas, hematúria, prostração, petéquias e equimoses na região abdominal e na mucosa do pênis.

Foi solicitado hemograma, contagem de plaquetas, urinálise, ALT, uréia, creatinina, microscopia de campo escuro para leptospirose, sorologia para leptospirose, pesquisa de hemoparasitas e a internação do animal no hospital.

O hemograma revelou anemia regenerativa, trombocitopenia e uma leve leucocitose com desvio a esquerda. A função renal se encontrava normal, já os valores das enzimas hepáticas estavam aumentados. Não foi encontrado hemoparasitas nos esfregaços sangüíneos. Foi observado presença de bilirrubina, proteína, leucócitos e hemácias na urina. Não foi encontrada leptospira no exame direto da urina. A sorologia para leptospirose foi positiva para L. canícola e L. icterohaemorragiae.

O animal recebeu 5mg/kg de dipropionato de imidocarb no primeiro dia e foi mantido um protocolo com doxiciclina, sulfato ferroso e anti-hemorrágicos. No 4º dia o animal não obteve melhora, continuava anorético, muito apático, com hematúria e equimoses por todo corpo. Foi realizado novo hemograma, onde se constatou diminuição no hematócrito para 18% e no número total de hemácias. O animal foi submetido novamente à transfusão com sangue total e instituído um novo protocolo terapêutico com dexametasona em dose imunossupressora (2mg/kg, BID).

Após 2 dias o animal apresentou melhora clínica, se apresentava alerta e voltou a se alimentar. Após 6 dias de tratamento o animal teve alta hospitalar, e iniciou-se o tratamento com prednisona em dose imunossupressora (2mg/kg, BID) durante 15 dias. Após este período foi realizado a diminuição gradual da dose de prednisona até que no final de 30 dias o animal não estava mais recebendo a medicação.

Após 15 dias da alta, o animal retornou ao hospital veterinário para reavaliação e realização de hemograma de acompanhamento. Neste momento, ele se encontrava sem nenhuma alteração no exame físico. No eritrograma não foi observada alteração, porém o leucograma ainda apresentava uma leucocitose neutrofílica severa. O tratamento antes instituído foi mantido e o hemograma foi repetido após 15 dias e neste momento não foi observada alteração digna de nota, tanto na série vermelha, como na série branca. Neste momento o animal recebeu alta médica.

DISCUSSÃO

As alterações laboratoriais encontradas eram compatíveis com as citadas ma literatura para trombocitopenia e anemia hemolítica imunomediada (queda abrupta do hematócrito, sinais de eritrorregeneração com presença de eritroblastos circulantes, trombocitopenia e presença de bilirrubina na urina).

Leucocitose neutrofílica com desvio à esquerda tem sido encontrada em animais apresentando AHIM, como no caso relatado, e quanto maior leucocitose, maior a severidade da doença.

A terapia com drogas imunossupressoras (dexametasona e prednisona) para inibir a ação de anticorpos direcionados contra os precursores medulares, revertendo o quadro de anemia e trombocitopenia, foi eficiente. Apesar da sorologia para leptospirose ter sido positiva para L. canícola e L. icterohaemorragiae, o animal havia sido vacinado há menos de 15 dias com a vacina óctupla, o que justifica a titulação positiva.

O fato do animal ter sido vacinado também desperta a suspeita de que o desenvolvimento da AHIM tenha sido provocado pela vacina. Existe grande correlação entre animais recentemente vacinados e ocorrência de AHIM. Além disso, estes cães desenvolvem severa trombocitopenia e hemólise intravascular.

CONCLUSÃO

Para o diagnóstico de trombocitopenia e anemia hemolítica imunomediada, além de se ter em mãos exames laboratoriais auxiliares, deve-se conhecer suas causas, e principalmente coletar o máximo de informações através da anamnese. Isso se torna fundamental para que possamos realizar seu diagnóstico diferencial e assim obter sucesso no tratamento e manutenção da vida do paciente.


ANEMIA HEMOLÍTICA IMUNOMEDIADA E TROMBOCITOPENIA EM CÃO RELATO DE CASO –

MÔNICA JORGE LUZ 1;CAROLINA DEL PINO PHELIPPE 1; RODRIGO SUPRANZETTI REZENDE2; PEDRO CARLOS LUCAS DE OLIVEIRA2

1 Médica Veterinária Residente do Hospital Veterinário de Uberaba, UNIUBE/FAZU/ABCZ – Av. do Tutunas, 720 – CEP 38061 – 500, Uberaba – MG, e-mail: monica_luz@hotmail.com;

2 Prof. Curso de Medicina Veterinária, UNIUBE/FAZU/ABCZ – Av. do Tutunas, 720 – CEP 38061 – 500, Uberaba – MG, e-mail: rezendehvu@hotmail.com .

Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Vida. Seropédica, RJ, EDUR, v. 27, suplemento, 2007.

Um comentário:

  1. Nome: Tel - Clínica Vet.: Particular Data: 27/07/2012
    Raça: Poodle Espécie: Canino Sexo:
    Idade: 4 – 5 anos Solicitado por: Dr
    Por gentileza me oriente por favor!

    HEMOGRAMA -Cães de 1 a 8 anos

    SÉRIE VERMELHA:

    Resultado Valor Referencial Unidade

    Hemácias 5,80 5,5 -8,5 x 106 mm ³
    HTC 39,5 37 -55 %
    Hb 13,5 12,0 – 18,0 g/dl
    VCM 68,2 60,0 – 77,0 µ
    n
    HCM 23,2 19,5 -24,5 YY
    CHCM 34,1 30,0 – 36,0 %
    Plaquetas 40.000 200.000 -500.000 mm³
    Prot. Plasmática 7,0 5,5 -8,0 g/dl
    Eritroblasto 0 (Observados durante a contagem diferencial)

    SÉRIE BRANCA:

    Resultado Valor Referencial Unidade

    Leucócitos 11.900 6.000 -17.000 µL

    Resultado Valor Referencial


    Leucometria % Absoluto /µl Relativo % Absoluto /µl
    Bastonetes 0 0 0 -3 0 -510
    Segmentados 80 9.520 60 -77 3.600 -13.090
    Eosinófilos 4 476 2 -10 120 -1.700
    Linfócitos 10 1.190 12 -30 720 -5.100
    Monócitos 6 714 3 -10 180 -1.700
    Basófilos 0 0 0 -1 0 -170

    Observações:
    Eritrograma: Sem alterações morfológicas.
    Leucograma: Sem alterações morfológicas.
    Plaquetas: Sem alterações morfológicas.

    Esse animal era de rua está comigo há 23 dias, em tratamento para herliquiose, com suspeita de cinomose , toma doxilim 100mg 1 x ao dia, tomou amoxilina com clavulanato 400 2ml, foi trocada por baytryl 1 ml, citoneurim 5000, vitaminas , predinisona 20 mg diminindo as doses , mas está com pernas bambeando, mas alimentando-se super bem, arroz frango, fígado e ração.Passei por 3 veterinário e não tenho um quadro definido, primeiro exame plaqueta 80 mil, sumbiu pra 180 mil uma semana depois, qdo tomou amoxilina para um problema respiratorio, parece que ficou bambenado as pernas e repetindo o exame abaixou pra 40 mil plaquetas. Sr poderia orientar-me
    monica_lodv@hotmail.com

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