O experimento foi composto com a formação aleatória de dois grupos de cães naturalmente infectados com o vírus da cinomose apresentando sinais neurológicos. Não houve critério clínico para a divisão dos grupos, os animais foram incluídos pela ordem de atendimento.
Após o atendimento clínico, foi realizada a triagem, com a verificação da possibilidade de tratamento com a ribavirina, pois não entraram nos grupos animais que estavam sendo tratados com outros medicamentos ou com mais de 10 dias de sinais clínicos nervosos. Foram colhidas as amostras de sangue, urina e líquor dos animais. Estes receberam o tratamento sintomático e a ribavirina e sua associação com o DMSO de acordo com os grupos durante 15 dias consecutivos. Neste período, os animais ficaram internados para melhor avaliação clínica diária, realização de exames complementares e garantia de administração das drogas.
A princípio foram selecionados 26 animais com sinais neurológicos compatíveis com cinomose, no entanto, seis destes animais vieram a óbito em um curto período, com menos de sete dias e, por isso, não foram considerados na avaliação estatística. Este critério foi realizado por não termos informações a respeito do tempo necessário de administração da ribavirina para inibir a replicação viral “in vivo”, então o descarte teve como objetivo manter a fidelidade dos dados.
Os 20 cães utilizados com sinais clínicos neurológicos foram diagnosticados a partir do histórico de vacinação, desenvolvimento clínico da doença, exame físico e pela reação de imunofluorescência direta do sangue.
Para a inclusão na pesquisa, alguns sinais neurológicos característicos deveriam estar presentes, como: paresia, ataxia, mioclonias e/ou cegueira. Os animais que apresentavam convulsões não foram incluídos na avaliação estatística porque vieram a óbito com menos de sete dias de tratamento. Com o intuito de diminuir a influência da resposta imune da fase crônica nos resultados, incluímos apenas animais que apresentavam no máximo 10 dias de sinais neurológicos.
Os 20 animais foram divididos em dois grupos de 10, atendidos na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da UNESP – Botucatu, pelo serviço de Enfermidades Infecciosas dos Animais, no período de março a novembro de 2007.
O grupo 1 (G1) foi composto por animais com sinais clínicos neurológicos que receberam o antiviral (Ribavirina) durante 15 dias consecutivos e um tratamento de suporte e sintomático, incluindo suplementação vitamínica (A, B, C, E) como imunoestimulantes, fluidoterapia nos casos de desidratação e, às vezes, combinada com glicose nos casos de anorexia, antimicrobianos no combate as infecções secundárias, protetores de mucosa, como a ranitidina e antieméticos, como metoclopramida.
O grupo 2 (G2) foi formado pelos animais que também apresentaram sintomas neurológicos e que receberam, além do tratamento de suporte e sintomático, a ribavirina em associação com o DMSO.
O grupo controle (GC) foi composto por animais que foram tratados anteriormente pelo serviço de Doenças Infecciosas dos Animais, porém sem o uso do antiviral.
A Ribavirina foi administrada em altas doses por via oral com objetivo de atingir a concentração adequada no líquor e interferir na replicação viral. A dosagem intravenosa adequada em humanos é de 20 mg/Kg nos casos de panencefalite subaguda esclerosante, causada pelo vírus do sarampo, no entanto, a droga disponível na forma injetável no Brasil é extremamente cara e inviabiliza sua utilização em animais domésticos. A concentração no líquor capaz de inibir a replicação viral deve ser alta, aproximadamente 7,5 μg/mL, e considerando-se a sua prolongada eliminação do soro, foi administrada na dose de 30 mg/Kg, a cada 24 horas, durante 15 dias.
Para melhor ajuste da dose, sem interferir na concentração do medicamento, a ribavirina na forma de cápsulas foi diluída em água destilada estéril ou em Solução Fisiológica a 0,9%, na proporção de oito cápsulas de 250 mg do princípio ativo para 50mL, armazenada em frascos estéreis de cor âmbar em geladeira. Sendo assim, a solução obtida possuía a concentração de 40 mg/mL da ribavirina para ser administrada por via oral. A manipulação da droga foi realizada no Laboratório de Diagnóstico Microbiológico da Disciplina de Enfermidades Infecciosas dos Animais Domésticos da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da UNESP-Botucatu/SP.
O DMSO foi administrado por via intravenosa na dose de 20 mg/Kg de peso vivo, a cada 24 horas, no mesmo momento que o antiviral, no período de 15 dias. Para evitar reações à medicação, o composto foi diluído na concentração de 10 a 20% em água destilada ou em Solução Fisiológica a 0,9% estéreis.
No período de 15 dias referentes ao tempo de tratamento com a ribavirina, foram realizados hemogramas no 1º, 4º, 7º, 10º, 12º e 15º dias nos dois grupos. Os exames bioquímicos e de urina foram realizados nos dias 1º, 5º, 10º e 15º após o atendimento dos animais no Hospital Veterinário, UNESP – Botucatu. A colheita de líquor foi realizada no momento em que o animal chegou ao Hospital Veterinário e após 15 dias de tratamento com ribavirina.
Os resultados confirmaram que no quarto dia de tratamento os animais do G2 não demonstravam mais o quadro de anemia. E concordando com os dados anteriores, obtivemos uma diferença significativa no décimo dia de tratamento entre os dois grupos, demonstrando estatisticamente que a resposta dos animais que receberam a associação da ribavirina com o DMSO teve uma resposta favorável ao combate da infecção pelo vírus da cinomose.
Com relação à série branca, os resultados demonstraram que não houve leucopenia na média da contagem total de leucócitos no primeiro dia. Porém no quarto dia de administração da droga houve uma diferença significativa entre os resultados do G1 e G2, mostrando que o grupo que recebeu a ribavirina associada com o DMSO obteve uma resposta imunológica melhor do que os animais do G1. Esta diferença na resposta imunológica, apesar de não apresentar nível de significância estatística, foi considerável até o décimo dia de tratamento. No 15º dia as contagens de leucócitos caíram nos dois grupos, sendo que o G1 apresentou leucopenia, que pode ser responsiva ao uso da ribavirina conforme a literatura.
Estes resultados nos permitem afirmar que o DMSO melhorou a ação da ribavirina sobre o vírus, que ficou evidenciado pela resposta imune.
No entanto, podemos observar que a linfopenia no G1 foi persistente em todos os momentos, ao contrário da encontrada no G2, apesar de não apresentar resultados com significância estatística. Contudo, o aumento no número de linfócitos na referida enfermidade é clinicamente significante com relação à melhora dos animais, demonstrando novamente que a associação da ribavirina com o DMSO foi mais eficaz na melhora clínica e hematológica destes animais.
CONCLUSÃO:
Os resultados do presente estudo permitem concluir que:
1. A ribavirina demonstrou atividade efetiva contra o vírus da cinomose em animais na fase neurológica, com melhora sensível do quadro clínico.
2. O DMSO mostrou-se capaz de potencializar a ação antiviral da ribavirina, aumentando o seu poder de difusão tecidual, tornando sua ação mais eficaz frente ao vírus da cinomose.
3. Os efeitos colaterais encontrados pela utilização da ribavirina foram: leve alteração em medula óssea observada pela anemia, imunossupressão expressa por linfopenia, branda lesão renal e gastrite.
4. A ribavirina foi capaz de diminuir a expressão do antígeno viral com conseqüente diminuição da produção de anticorpos no SNC, porém manteve uma pleocitose linfocítica no líquor.
5. A dose de 30 mg/Kg por via oral, a cada 24 horas, durante 15 dias foi eficaz contra a infecção viral. O monitoramento através de exames complementares deve ser realizado rotineiramente com intuito de acompanhar o surgimento de efeitos colaterais, mesmo que estes sejam reversíveis com a suspensão do tratamento.