quarta-feira, 21 de novembro de 2012

LINFOMA ALIMENTAR EM CANINO PINSCHER – RELATO DE CASO


SANTOS, Sabrinne Peglow dos 1; SAMPAIO, Luzia Cristina Lencioni 2; LOPES, Daniela Jardim 1; SEHNEM, Estêvão 1; COSTA, Rafael Muller da 3; SAMPAIO JR, Daiser Paulo de Almeida 4. 




1 Acadêmico de Medicina Veterinária – Universidade Federal de Pelotas
2 Profª MSC Departamento de Clínicas Veterinária – Universidade Federal de Pelotas/ Departamento de Clínicas Veterinárias, Campus Universitário, CEP 96010-900, Pelotas, RS e-mail: sampaio.cris@gmail.com
3 Médico Veterinário – Residente do HCV-Universidade Federal de Pelotas
4 Médico Veterinário - Clínica Veterinária Dr Paulo Sampaio

Linfomas são neoplasias em tecidos linfóides: fígado, baço, medula óssea e linfonodos (VAIL E YOUNG, 2007). São classificados anatomicamente em multicêntricos, tímico, cutâneo, solitário e alimentar (FOURNEL-FLEURY, et al 2002).

O linfoma alimentar tem localização gástrica e/ou intestinal (MORENO E BRACARENSE, 2006) e caracteriza-se pela infiltração solitária, multifocal ou difusa do trato gastrointestinal ou linfonodos mesentéricos (VAIL E OGILVIE, 2003). No caso de envolvimento difuso do trato intestinal, surgem anorexia, vômito, diarréia, letargia, hematemese, melena e perda de peso (COUTO, 1992).

O hemograma de pacientes acometidos pode revelar anemia, trombocitopenia, leucopenia ou leucocitose, linfopenia ou linfocitose (TESKE, 1994). O exame físico revela massas intra-abdominais e alças intestinais espessadas (COUTO, 2001). Por radiografia contrastada se visualiza alterações na mucosa e um espessamento irregular (COUTO, 1992). A ultrassonografia permite a visualização das massas focais, identifica o órgão de origem e avalia a extensão da neoplasia (MADEWELL; THEILEN, 1987).

Segundo Vail e Ogilvie (2003) o diagnóstico de certeza é baseado na avaliação histológica e citológica dos tecidos afetados. O tratamento de eleição é a quimioterapia, sendo que cães e gatos tratados sobrevivem em média até 12 meses com uma boa qualidade de vida (VAIL E YOUNG, 2007).

Um canino, fêmea, pinscher, 13 anos foi atendido na Clinica Veterinária Dr Paulo Sampaio – Pelotas (RS), com história de vômitos esporádicos e diarréia amarelada, por vezes com sangue a cerca de três semanas.

Coletou-se sangue afim de realizar hemograma, foi feito fluidoterapia e prescrito metoclopramida e ranitidina. Três semanas após o paciente retornou com persistência da diarréia. Ao exame clínico detectou-se temperatura corporal = 39,5º, mucosas pálidas, taquicardia, taquipnéia e pontos de equimose pelo corpo. O paciente continuava prostrado e com desidratação em torno de 12%. Foi realizado um exame coprológico que resultou negativo para parasitose gastro-intestinal.

Realizou-se nova coleta de material e solicitado hemograma e dosagem de creatinina e uréia. Foi prescrita dieta comercial balanceada, hidratação, omeprazol e antibioticoterapia a base de amoxicilina + clavulanato. Trinta dias após houve novo retorno. Diante da persistência do quadro clínico foi solicitada nova avaliação do hemograma e bioquímica renal, sendo o paciente encaminhado para realização de esôfagogastroscopia e colonoscopia. Onde foram coletadas 5 amostras da região do antro pilórico, corpo e fundo gástrico e 7 amostras do cólon para exame histopatológico, no qual foi possível chegar ao diagnóstico definitivo de Linfoma Alimentar. A paciente iniciou terapia quimioterápica, mas veio a óbito alguns dias após o tratamento.

A contagem de hemácias se mostrou abaixo dos níveis fisiológicos desde a primeira coleta (4.18 milhões/mm3), e chegou a 2.12 milhões/mm3 no terceiro hemograma. Também tiveram declínio acentuado durante o período avaliado os níveis de hemoglobina e o hematócrito, que chegaram a 4,4g% e 13,9% respectivamente na última coleta. Foi observada anemia normocítica e hipocrômica.

A contagem de leucócitos totais nos dois primeiros exames foi de 17.500 mm3, sendo registrado no último exame leucocitose com desvio para esquerda, com 28.500/mm3 leucócitos e 4% de bastonetes. Nos dois últimos hemogramas foi constatado trombocitopenia, com contagem de plaquetas igual a 39.000/mm3 e 47.000/mm3 respectivamente. Todos os resultados obtidos concordam com as descrições de Couto (1992) ao se referir aos parâmetros hematológicos do paciente com linfoma. A normalidade nos níveis da creatinina sérica (1,05 mg/dl e 1,22 mg/dl) indica que não houve comprometimento da função renal. Os níveis altos de uréia (84mg/dl e 86mg/dl) foram relacionados ao quadro de desidratação desencadeado pelo vômito e diarréia crônica.

A esôfagogastroscopia e colonoscopia mostraram o esôfago com forma, calibre, distensibilidade preservadas e mucosas normais. Transição esôfago-gástrica sem alterações (figura 1). Estômago com pequena quantidade de conteúdo sanguinolento; fundo e cardia com pequenas lesões erosivas e antro pilórico com mucosa hiperêmica, lesões ulcerativas, áreas espessadas e irregulares. Cólon com forma, calibre, distensibilidade preservadas e vascularização normais (figura 2). Mucosas levemente pálidas e lesão ulcerativa de aproximadamente 1mm de diâmetro localizada no cólon ascendente, próximo a válvula íleo-cólica. Ausência de pólipos ou estruturas tumorais no lúmen cólico descendente e transverso (figuras 3).




Couto (1992) referem-se ao vômito, diarréia, desidratação e melena relatados neste caso, como sintomas do linfoma alimentar em caninos. O exame histopatológico revelou tratar-se de
Linfoma Alimentar. Vail e Young (2007) sugerem a coleta de material para exame histológico e citológico (figura 4) como principal método diagnóstico para a doença.

















segunda-feira, 12 de novembro de 2012

RELATO DE CASO: PERSISTÊNCIA DE DENTES DECÍDUOS EM CÃO.




Marco Antonio Gioso 1; Samira Lessa Abdalla 2; Fernanda Maria Lopes Kubitza 3; Marlon Vinicius Cabral Ramalho 4; Ana Paula dos Reis Moura 4; Diego Gonzalez Vivas 5; Marta Fernanda Albuquerque da Silva 6

1 Médico Veterinário e Cirurgião Dentista, Prof. Associado do Departamento de Cirurgia – FMVZ/USP
2 Médica Veterinária, Doutoranda – VCI-FMVZ/USP
3 Médica Veterinária Autônoma, Hospital Veterinário Cães e Gatos 24 Horas
4 Acadêmico em Medicina Veterinária – UFRRJ
5 Médico Veterinário, Mestrando em Medicina Veterinária - UFRRJ
6 Médica Veterinária, Prof. Associado em Cirurgia Veterinária - UFRRJ


A persistência de dentes decíduos corresponde à ausência de esfoliação da dentição primária, a qual é sucedida pela erupção dos dentes permanentes, que ocorre até os sete meses de idade em cães (GIOSO, 2007). Sua etiologia ainda não foi esclarecida, e alguns autores, como Emily e Penman (1994), acreditam que apresente caráter hereditário, acometendo especialmente cães de raças pequenas, como Yorkshire, Poodle miniatura, Pinscher, Maltês e Spitz Alemão. Já outros autores acreditam que a causa desta anomalia esteja relacionada à falta de dilaceração da membrana periodontal, responsável pela fixação do dente ao seu respectivo alvéolo; assim, não há rizólise do dente decíduo, e a erupção do dente permanente ocorre em outra região ao mesmo tempo (WHYTE et al., 1999).

Dentes decíduos e permanentes não podem ocupar o mesmo alvéolo, logo, os dentes decíduos devem ser extraídos assim que a persistência for diagnosticada, isto é, em torno de sete meses de idade. Quanto antes for realizada a exodontia, menores as conseqüências decorrentes de maloclusão e agressão ao periodonto. Devido à proximidade entre os dentes permanente e decíduo, pode haver maior facilidade para o acúmulo de debris alimentares e biofilme bacteriano, levando à doença periodontal, que pode culminar em perda precoce de ambos os dentes (antes dos 3 a 4 anos) (HOBSON, 2005; GIOSO, 2007).

A erupção dos dentes permanentes é variável, mas usualmente inicia-se pelos dentes incisivos centrais entre três e quatro meses de idade. Os caninos permanentes aparecem entre quatro e seis meses. O processo de erupção é completado aos sete meses. Fatores que podem afetar o tempo de erupção dentária incluem saúde geral, estado nutricional, sexo e porte (HARVEY; EMILY, 1993).

O objetivo deste relato é descrever a evolução de um caso de persistência de dentes decíduos em grande quantidade em cão, com apresentação tardia para o tratamento.

Foi atendido no Serviço de Odontologia do Hospital Veterinário Cães e Gatos 24 horas, um animal da espécie canina, fêmea, raça Yorkshire Terrier, com 1 ano de idade, pesando 2kg, apresentando quadro de disfagia e desconforto oral. Durante o exame físico foi diagnosticada persistência de 17 dentes decíduos e maloclusão caracterizada por deslocamento lingual dos caninos inferiores (base estreita). O tratamento cirúrgico foi indicado e foram realizados exames pré-operatórios cujos resultados encontravam-se dentro dos padrões de normalidade.

A raça do animal apresentada está entre as citadas na literatura como de maior ocorrência (EMILY e PENMAN, 1994), o que também pode ser observado na rotina clínica, reiterando que, apesar de não haver comprovação por estudos genéticos, o caráter hereditário da afecção pode ser suspeitado.

A retenção de caninos e incisivos é comum (GIOSO, 2007), o que foi observado no caso apresentado, além da persistência de pré-molares superiores e inferiores (Figuras 1 a 5). A retenção dos caninos inferiores decíduos geralmente está associada à presença dos caninos permanentes com base estreita (GIOSO, 2007), que também pode ser notado no paciente atendido no presente trabalho. Quanto mais precoce o diagnóstico da persistência dos caninos inferiores decíduos, da maloclusão dos caninos permanentes e a realização da exodontia dos decíduos, menores serão os danos causados nas estruturas adjacentes e maiores serão as possibilidades de reposicionamento dos caninos permanentes através de métodos ortodônticos interceptivos (HOBSON, 2005; GIOSO, 2007).













Figura 1 Vista lateral da maxila direita. Em A, presença dos dentes decíduos (setas) – da esquerda para a direita: terceiro pré-molar, segundo pré-molar e canino. Em B, aspecto pós-exodontia. Figura 2 Vista lateral da maxila esquerda. Em A, presença dos dentes decíduos (setas) – da esquerda para direita: canino, segundo e terceiro pré-molares. Em B, aspecto pós – exodontia. Figura 3 Vista lateral da mandíbula direita. Em A, presença dos dentes decíduos (setas) – da esquerda para a direita: terceiro, segundo e primeiro pré-molares, e canino. Em B, aspecto pós-exodontia. Figura 4 Vista lateral da mandíbula esquerda. Em A, presença dos dentes decíduos (setas) – da esquerda para a direita: canino, primeiro, segundo e terceiro pré-molares. Em B, aspecto pós-exodontia. Notar os caninos permanentes de base estreita. Figura 5 Dentes anteriores da maxila. Em A, presença dos dentes decíduos (setas) – da esquerda para a direita: segundo e primeiro incisivos direitos, primeiro incisivo esquerdo. Em B, aspecto pós-exodontia. Figura 6 Dentes decíduos extraídos (toal de 17 dentes). Notar a presença de dentes com e sem rizólise.

Após 10 dias do tratamento odontológico, o paciente foi levado ao hospital para acompanhamento, apresentando completa cicatrização gengival e diminuição significativa do processo inflamatório e, segundo a proprietária, o paciente estava alimentando-se melhor.

Conclui-se que mesmo com a indicação da exodontia de grande quantidade de dentes decíduos em único procedimento cirúrgico, houve melhora significativa no bem estar do paciente durante o período pós-operatório.