quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Breve relato de caso sobre uma criança diagnosticada com paralisia pela picada do carrapato

Primeiramente gostaria de agradecer ao colega Dr. Carlos Eduardo Vaz, CRMV/RJ 6917, pelo envio das fotos coloridas do artigo sobre Lynxacariose postado em 08/06/11. Muito obrigado! 

Bem, apesar do relato a seguir ser sobre medicina humana, achei-o muito interessante devido ao envolvimento do vetor carrapato e como o caso foi conduzido pelos pediatras. O texto original está em inglês, quem quiser ler, favor encaminhar o pedido de envio por e-mail. 

A paralisia causada pela picada do carrapato é uma síndrome neurológica frequentemente confundida com outras desordens agudas. Ela é caracterizada pela paralisia ascendente causada por potente neurotoxina produzida pelo carrapato.  A pronta remoção do carrapato leva à melhora do quadro clínico. 

RELATO DE CASO: 

Uma menina de seis anos de idade, sem histórico de doenças anteriores, relatou sensação de formigamento nos dedos e seis horas após começou a cambalear e cair. No dia seguinte, ela não conseguia andar sem ajuda. Trinta horas após o início dos sintomas ela foi levada ao hospital da faculdade de medicina da Georgia. 

Durante o exame inicial, a criança estava alerta, sem febre, andar atáxico e com instabilidade no tronco. Numa escala de 0 a 5, onde 5 correspondia a completa força muscular, ela apresentava a graduação de 4 nos braços e pernas. Os reflexos dos músculos extensores estavam diminuídos no joelho esquerdo e normais nas outras partes testadas. 

Os pares de nervos cranianos e o tônus do esfíncter retal estavam preservados. Radiografias torácicas e exames laboratoriais de rotina não apresentaram anormalidades, assim como a cultura fecal e os testes toxicológicos. 

Os diagnósticos diferenciais foram: ataxia cerebelar aguda, compressão de medula espinhal cervical e síndrome de Guillain-Barré (em rápida pesquisa li que polirradiculoneurite corresponde à outra nomenclatura da síndrome, é uma doença desmielinizante). 

Imagens de ressonância magnética da cabeça e coluna cervical não mostraram alterações, a análise do líquido cérebro-espinhal revelou 29mg/dl de proteína, 71mg/dl de glicose e contagem de 2 linfócitos por milímetro cúbico. A coloração de Gram e a cultura do líquido também resultaram normais. 

Este parágrafo cita termos médicos que atrapalham a tradução literal. Vai o que foi entendido: A condução nervosa do nervo ulnar estava com o tempo prolongado, 6msecs (valor normal < 2.5msecs). 

Após 48 horas de iniciados os sintomas clínicos, a criança tornou-se letárgica, a fraqueza simétrica das pernas piorou e a graduação de força muscular foi para 3 na escala de 0 a 5. Os movimentos finos, delicados dos dedos ficaram prejudicados e os reflexos dos músculos extensores dos joelhos e calcanhares estavam ausentes. 

Devido à paralisia ascendente e hipoventilação, a criança foi transferida para a unidade de terapia intensiva para monitoramento e a possibilidade de ser intubada. O consenso médico era de que a criança possuía a síndrome de Guillain-Barré.  

Completadas 72 horas do estabelecimento da doença, a força motora dos braços e pernas caiu para 2 na escala de 0 a 5, foram observadas indiferença aos estímulos externos, fala arrastada e ptose palpebral bilateral. Em razão da rápida evolução dos sintomas, a criança foi encaminhada para o preparo de acesso venoso femoral para plasmaferese de emergência. 

Durante a fixação do catéter central, um astuto residente ( originalmente está escrito "astute" rsrs, não irei trocar por sinônimos..rs) da pediatria alertou que a síndrome de Guillain-Barré pode ser confundida com paralisia pela picada do carrapato. Com o auxílio de um pente fino foi achado um carrapato de 15mm de diâmetro aderido ao couro cabeludo da paciente. Foi removido com pinças e identificado como uma fêmea de Dermacentor variabilis. 


Aproximadamente seis horas após da remoção do carrapato, os sinais de letargia, fala arrastada e ptose palpebral regrediram. Em oito horas a força dos braços evoluíram para a graduação 4 da escala de 0 a 5 e ela conseguia elevar os braços acima da cabeça. Com 12 horas ela mantinha-se sentada sem ajuda e elevava as suas pernas contra resistência moderada.  A ausência dos reflexos dos músculos extensores persistiu até 17 horas da remoção do carrapato. Finalmente ela andava sem ajuda após 24 horas. 


Ela recebeu alta hospitalar após 32 horas da remoção do carrapato. 

Muito legal esse artigo, um pente fino desvendou todo o quebra-cabeça rsrs. Só a medicina humana e a veterinária proporcionam essas coisas :-)  

A parte de discussão do artigo faz menção sobre poliomielite, botulismo, miastenia gravis, síndrome de Guillain-Barré, intoxicação por metais pesados, envenenamento por inseticida, desequilíbrios eletrolíticos, inalação de solvente e lesão medular. E o residente achou o carrapato vilão, rsrs. 

M
ICHAEL 

W. F

ELZ 

, M.D., C
ARRIE 
D
AVIS 
S
MITH 
, M.D., 
AND 
T
HOMAS 
R. S
WIFT 
, M.D.



From the Departments of Family Medicine (M.W.F.), Pediatrics (C.D.S.), and Neurology (T.R.S.), Medical College of Georgia, Augusta. Address reprint requests to Dr. Felz at the Department of Family Medicine, Medical College of Georgia, HB 4032, Augusta, GA 30912, or at mfelz@mail.mcg.edu.












3 comentários:

  1. Teve um episódio do Dr. House exatamente igual a este relato... coicidências?

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  2. Realmente, um caso típico para o Dr. House! :)

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  3. VENDO LINDO PET SHOP EM VICENTE PIRES!!!!!


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