segunda-feira, 12 de novembro de 2012

RELATO DE CASO: PERSISTÊNCIA DE DENTES DECÍDUOS EM CÃO.




Marco Antonio Gioso 1; Samira Lessa Abdalla 2; Fernanda Maria Lopes Kubitza 3; Marlon Vinicius Cabral Ramalho 4; Ana Paula dos Reis Moura 4; Diego Gonzalez Vivas 5; Marta Fernanda Albuquerque da Silva 6

1 Médico Veterinário e Cirurgião Dentista, Prof. Associado do Departamento de Cirurgia – FMVZ/USP
2 Médica Veterinária, Doutoranda – VCI-FMVZ/USP
3 Médica Veterinária Autônoma, Hospital Veterinário Cães e Gatos 24 Horas
4 Acadêmico em Medicina Veterinária – UFRRJ
5 Médico Veterinário, Mestrando em Medicina Veterinária - UFRRJ
6 Médica Veterinária, Prof. Associado em Cirurgia Veterinária - UFRRJ


A persistência de dentes decíduos corresponde à ausência de esfoliação da dentição primária, a qual é sucedida pela erupção dos dentes permanentes, que ocorre até os sete meses de idade em cães (GIOSO, 2007). Sua etiologia ainda não foi esclarecida, e alguns autores, como Emily e Penman (1994), acreditam que apresente caráter hereditário, acometendo especialmente cães de raças pequenas, como Yorkshire, Poodle miniatura, Pinscher, Maltês e Spitz Alemão. Já outros autores acreditam que a causa desta anomalia esteja relacionada à falta de dilaceração da membrana periodontal, responsável pela fixação do dente ao seu respectivo alvéolo; assim, não há rizólise do dente decíduo, e a erupção do dente permanente ocorre em outra região ao mesmo tempo (WHYTE et al., 1999).

Dentes decíduos e permanentes não podem ocupar o mesmo alvéolo, logo, os dentes decíduos devem ser extraídos assim que a persistência for diagnosticada, isto é, em torno de sete meses de idade. Quanto antes for realizada a exodontia, menores as conseqüências decorrentes de maloclusão e agressão ao periodonto. Devido à proximidade entre os dentes permanente e decíduo, pode haver maior facilidade para o acúmulo de debris alimentares e biofilme bacteriano, levando à doença periodontal, que pode culminar em perda precoce de ambos os dentes (antes dos 3 a 4 anos) (HOBSON, 2005; GIOSO, 2007).

A erupção dos dentes permanentes é variável, mas usualmente inicia-se pelos dentes incisivos centrais entre três e quatro meses de idade. Os caninos permanentes aparecem entre quatro e seis meses. O processo de erupção é completado aos sete meses. Fatores que podem afetar o tempo de erupção dentária incluem saúde geral, estado nutricional, sexo e porte (HARVEY; EMILY, 1993).

O objetivo deste relato é descrever a evolução de um caso de persistência de dentes decíduos em grande quantidade em cão, com apresentação tardia para o tratamento.

Foi atendido no Serviço de Odontologia do Hospital Veterinário Cães e Gatos 24 horas, um animal da espécie canina, fêmea, raça Yorkshire Terrier, com 1 ano de idade, pesando 2kg, apresentando quadro de disfagia e desconforto oral. Durante o exame físico foi diagnosticada persistência de 17 dentes decíduos e maloclusão caracterizada por deslocamento lingual dos caninos inferiores (base estreita). O tratamento cirúrgico foi indicado e foram realizados exames pré-operatórios cujos resultados encontravam-se dentro dos padrões de normalidade.

A raça do animal apresentada está entre as citadas na literatura como de maior ocorrência (EMILY e PENMAN, 1994), o que também pode ser observado na rotina clínica, reiterando que, apesar de não haver comprovação por estudos genéticos, o caráter hereditário da afecção pode ser suspeitado.

A retenção de caninos e incisivos é comum (GIOSO, 2007), o que foi observado no caso apresentado, além da persistência de pré-molares superiores e inferiores (Figuras 1 a 5). A retenção dos caninos inferiores decíduos geralmente está associada à presença dos caninos permanentes com base estreita (GIOSO, 2007), que também pode ser notado no paciente atendido no presente trabalho. Quanto mais precoce o diagnóstico da persistência dos caninos inferiores decíduos, da maloclusão dos caninos permanentes e a realização da exodontia dos decíduos, menores serão os danos causados nas estruturas adjacentes e maiores serão as possibilidades de reposicionamento dos caninos permanentes através de métodos ortodônticos interceptivos (HOBSON, 2005; GIOSO, 2007).













Figura 1 Vista lateral da maxila direita. Em A, presença dos dentes decíduos (setas) – da esquerda para a direita: terceiro pré-molar, segundo pré-molar e canino. Em B, aspecto pós-exodontia. Figura 2 Vista lateral da maxila esquerda. Em A, presença dos dentes decíduos (setas) – da esquerda para direita: canino, segundo e terceiro pré-molares. Em B, aspecto pós – exodontia. Figura 3 Vista lateral da mandíbula direita. Em A, presença dos dentes decíduos (setas) – da esquerda para a direita: terceiro, segundo e primeiro pré-molares, e canino. Em B, aspecto pós-exodontia. Figura 4 Vista lateral da mandíbula esquerda. Em A, presença dos dentes decíduos (setas) – da esquerda para a direita: canino, primeiro, segundo e terceiro pré-molares. Em B, aspecto pós-exodontia. Notar os caninos permanentes de base estreita. Figura 5 Dentes anteriores da maxila. Em A, presença dos dentes decíduos (setas) – da esquerda para a direita: segundo e primeiro incisivos direitos, primeiro incisivo esquerdo. Em B, aspecto pós-exodontia. Figura 6 Dentes decíduos extraídos (toal de 17 dentes). Notar a presença de dentes com e sem rizólise.

Após 10 dias do tratamento odontológico, o paciente foi levado ao hospital para acompanhamento, apresentando completa cicatrização gengival e diminuição significativa do processo inflamatório e, segundo a proprietária, o paciente estava alimentando-se melhor.

Conclui-se que mesmo com a indicação da exodontia de grande quantidade de dentes decíduos em único procedimento cirúrgico, houve melhora significativa no bem estar do paciente durante o período pós-operatório.

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