terça-feira, 29 de maio de 2012

ACHADOS RADIOGRÁFICOS DO HIPERPARATIREOIDISMO NUTRICIONAL SECUNDÁRIO EM GATO DOMÉSTICO - RELATO DE CASO



Denise do Vale Soares1; André Luiz Blaschikoff da Silva¹; Gabriela de Carvalho Cid2; Suzana Vieira
Limeira3; Rosemar de Almeida Freitas3; Cristiano Chaves Pessoa da Veiga4; Luciana Vasconcelos
Amado5



1 Aluno de Graduação – Monitor – UFRRJ - Hospital Veterinário - Instituto de Veterinária - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, BR-465, km 7, Seropédica/RJ. CEP: 23890-000. e-mail: denise.veterinaria@yahoo.com.br

2 Aluno de Graduação e Bolsista do Grupo PET Medicina Veterinária (MEC/SESu) – UFRRJ
3 Médico Veterinário Residente – UFRRJ
4 Médico Veterinário – MSc – UFRRJ
5 Médico Veterinário – Esp, MSc – Docente UFRRJ





O hiperparatireoidismo nutricional secundário (HNS) é uma doença metabólica que tem sido observada tanto em animais domésticos quanto em silvestres (STURION & PEREIRA, 1995; STERZO et al.,2010). A secreção aumentada de paratormônio é consequência das dietas que são extremamente baixas em cálcio, ou com desequilíbrio cálcio-fósforo, resultantes da alta ingestão e absorção de fosfato ou deficiência de vitamina D (STURION & PEREIRA, 1995; STERZO et al.,2010; RAHAL et al., 2002).

aumento da atividade dos osteoclastos é generalizada, mas há sinais de lugares de predileção onde a doença se desenvolve com mais intensidade como nos ossos da crista interdental, ossos do crânio, vértebras e cortical de ossos longos (STURION & PEREIRA, 1995). Outra condição geralmente relacionada com esta doença é a fratura em galho verde, uma alteração óssea frequente em filhotes de cães e gatos (MARTIN & CAPEN, 1985).


As fraturas em galho verde são consideradas fraturas patológicas, pois são secundárias à ação dos osteoclastos acarretando na fragilidade óssea que é o fator predisponente para a ocorrência dessa lesão (KEALY & McALLISTER, 2005).



Quando uma dieta é pobre em cálcio o organismo utiliza mecanismos compensatórios para balancear sua proporção como o aumento da absorção intestinal e diminuição da excreção renal desse mineral acompanhado da mobilização de cálcio dos ossos, considerados a maior reserva de cálcio do organismo (MARTIN & CAPEN, 1985).



É descrito o caso de um felino doméstico, com dois meses de idade, fêmea, sem raça definida que foi atendido no Hospital Veterinário (HV) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) apresentando dor no membro posterior esquerdo há uma semana e dificuldade para caminhar.



Durante a anamnese o proprietário relatou que o animal vivia em uma churrascaria e alimentava-se apenas de carne crua. Ao exame clínico, verificou-se frequência respiratória, batimentos cardíacos e temperatura dentro dos parâmetros de normalidade. Foi solicitado exame radiográfico dos membros posteriores, incluindo o membro afetado. As imagens radiográficas apresentaram osteopenia generalizada, estreitamento do canal pélvico devido à deformidade dos ósseos que compõem a pelve e presença de fratura em galho verde em
região metafisária do fêmur esquerdo resultante de fragilidade óssea (figura 1).



Imagem radiográfica na posição ventro-dorsal da região pélvica da paciente felina acima relatada realizada no dia do seu primeiro atendimento evidenciando osteopenia, fratura em galho verde (SETA) em fêmur esquerdo e estreitamento de pelve.


Os achados radiográficos indicaram tratar-se de osteodistrofia juvenil secundária ao hiperparatireoidismo nutricional. Foi prescrita dieta balanceada incluindo ração comercial para filhotes, suporte nutricional como complemento da dieta e repouso do animal com restrição ambiental. Depois de 11 dias, foi realizada revisão do animal que não apresentava mais dor no membro posterior esquerdo e já conseguia caminhar e, neste momento, foi realizada uma nova avaliação radiográfica onde foram verificadas melhora da
osteopenia e formação de calo ósseo no fêmur esquerdo (figura 2).

Imagem radiográfica na posição ventro-dorsal da região pélvica da mesma paciente realizada 11 dias após o seu primeiro atendimento evidenciando melhora na densidade óssea e formação de calo ósseo no fêmur esquerdo. 


A causa principal dessa patologia é a alimentação incorreta de filhotes, como as dietas deficientes de cálcio, baseando-se basicamente no consumo de carne bovina, cereais, grãos e frutas (STURION & PEREIRA, 1995; TOMSA et al., 1999), exatamente como o ocorrido no caso relatado, onde o paciente tratava-se de filhote com alimentação restrita em carne, alimento de alta aceitação pelos felinos por serem carnívoros restritos. Neste caso, a osteopenia apresentada pelo felino estava diretamente relacionada à mobilização de cálcio dos ossos decorrente da dieta restritiva em carne bovina.

O estreitamento do canal pélvico nos felinos acometidos por HSN tem sido descrito na literatura como conseqüência da conformação óssea dos felinos que são mais delgados e longos, favorecendo também o aparecimento da fratura em galho verde (STURION & PEREIRA, 1995) ambos os sinais radiográficos foram visualizados no presente relato. Embora a lordose na coluna lombar tenha sido amplamente descrita em literatura como um sinal radiográfico (TOMSA et al., 1999), essa alteração não foi visualizada nesse paciente. As alterações da pelve podem contribuir para retenção fecal (STURION & PEREIRA, 1995).

Mesmo em animais acometidos, as dosagens de cálcio e fósforo podem apresentar-se dentro da normalidade fazendo com que as concentrações plasmáticas desses elementos contribuem pouco para o diagnóstico (RAHAL et al., 2002) e por isso não foi realizado nesse paciente. ( IMPORTANTE!!!!). 

Outros 
fatores que podem contribuir para o diagnóstico são o aumento dos níveis séricos de fosfatase alcalina 
que pode ser um indicador de atividade osteoclástica e a análise das concentrações do hormônio da 
paratireóide. Este último requer exames laboratoriais especializados e possui custo elevado (RAHAL et 
al., 2002).



Foi possível também concluir que a radiografia é um método eficiente de avaliar a desmineralização óssea ocorrida no hiperparatireoidismo nutricional secundário, mostrando-se uma ferramenta diagnóstica não invasiva, rápida, de baixo custo e facilmente disponível no mercado, podendo ser utilizada quando não é possível realizar a dosagem hormonal.





















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