quarta-feira, 29 de junho de 2011

FÁRMACOS UTILIZADOS NO TRATAMENTO DAS AFECÇÕES NEUROLÓGICAS DE CÃES E GATOS.

Interessante este artigo, já trabalhei com a morfina e não tive a oportunidade de ver o prurido como efeito adverso. Se a morfina faz a liberação de histamina, então podemos chegar a conclusão de que ela é contra indicada nos casos de mastocitomas (mastócitos degranulam histamina) que estejam comprimindo terminações nervosas e causando o quadro de dor???
Nos cães e gatos com afecções do sistema nervoso o tratamento pode ser dividido em médico e/ou cirúrgico. O tratamento médico é baseado na administração de fármacos que atuem diretamente no agente etiológico e proporcionem a cura da doença (ex.: antibióticos), ajam na diminuição da progressão da doença (ex.: neoplasias) ou é baseado no tratamento de suporte (ex.: cinomose).
Quanto ao fármaco adequado a ser utilizado, necessita-se saber a dose a ser empregada, o intervalo entre doses e a duração do tratamento, sempre relacionando a etiologia da afecção. Deve-se também ter conhecimento das particularidades existentes no sistema nervoso, como a barreira hematoencefálica. Sendo assim, o objetivo deste trabalho é relatar os diferentes fármacos utilizados atualmente na terapêutica das afecções neurológicas de cães e gatos, assim como sua indicação, dosagens, intervalo entre doses e duração do tratamento médico.
Analgésicos opióides:  
Os analgésicos opióides são os fármacos mais utilizados e mais efetivos no controle da dor em animais. Eles funcionam ativando o sistema antinociceptivo, inibindo a projeção da dor (BAGLEY, 2005).
A morfina em cães e em gatos (baixas doses) é utilizada no tratamento da dor aguda e profunda e na medicação pré e pós-operatória. O efeito adverso da morfina em gatos é a hiperexcitabilidade que pode ser minimizada com o uso de tranqüilizantes ou baixas doses. Já os efeitos adversos relacionados aos cães e gatos são: euforia, hipotensão, prurido (libera histamina), depressão respiratória, edema, hemorragia cerebral, dificuldade de urinar, e redução da formação de urina. A dose recomendada para cães é 0,5-1 mg/kg, via intramuscular (IM) ou subcutânea (SC); 0,05-0,4 mg/kg, q1-4h, IV; ou 0,2-1 mg/kg, q2-6h, IM ou SC; 0,3-3 mg/kg q4-8h, por via oral (VO) e em gatos 0,05- 0,2 mg/kg, IM, SC (com cautela) (ANDRADE, 2002). Administrada pela via epidural apresenta a vantagem de que a ação analgésica terá duração de, aproximadamente, 24 horas (INTELIZANO, et al. 2002)
O fentanil possui ação mais rápida e potente (75-125 vezes) do que a morfina, porém é de curta duração (30-45 minutos) (CARROLL, 2005).
O uso do adesivo de fentanil propicia excelente analgesia pós-operatória para pacientes que sofreram procedimentos neurocirúrgicos da coluna vertebral. Tem como efeitos adversos em cães à promoção de respiração ofegante, defecação e flatulências, além de através de estímulos sonoros poderem provocar respostas motoras (ANDRADE, 2002).
No caso de infusão em velocidade constante uma dose inicial de 2μg/kg, IV em cães e 1-2 μg/kg, em gatos seguida por infusão (1-6 μg/kg/h em cães e 1-4 μg/kg/h, sendo que a duração da analgesia corresponde à duração da infusão mais 30 minutos (CARROLL, 2005).
A codeína vem sendo utilizada no controle da dor para animais com transtornos neurológicos sendo segura e efetiva em dor severa (1 mg/kg, VO, q6h) (BAGLEY, 2005). Em cães saudáveis Carroll (2005), recomenda 1-2 mg/kg de codeína, VO, q8h, associado a acetaminofen (paracetamol), porém isso não deve ser utilizado em cães com hepatopatias ou propensos a anemia com corpúsculo de Heinz e também é estritamente contra-indicada essa associação em gatos. Pode-se administrar codeína sem acetaminofen (1-4 mg/kg VO, q1-6h), conforme necessário.
O butorfanol tem a vantagem de oferecer analgesia com depressão ventilatória mínima e doses subseqüentes não produzem depressão adicional. Em cães e gatos geralmente é administrado em casos de dor leve a moderada, a dose recomendada é 0,4 –1 mg/kg, VO, q8h por 2-3 dias (CARROLL, 2005).
Buprenorfina é 30 vezes mais potente do que a morfina, sendo utilizado como potente analgésico, sendo a dose recomendada para cães 0,05-0,02 mg/kg, q4-8h, IM ou IV (ANDRADE, 2002). Segundo Carroll (2005), sua ação tem início em aproximadamente 30 minutos com duração de 4-8h.
Foi constatado experimentalmente que a utilização da naloxona também apresenta outros efeitos potencialmente importantes em neurologia. Sendo demonstrado que em altas doses atuará melhorando o fluxo sanguíneo após o trauma medular e aumentando a recuperação da função neurológica, também podendo ser administrados logo após o trauma com finalidade de proteger o paciente, durante o transporte (BRAUND, 2003).
Antibióticos:
O sistema nervoso central (SNC) deve ser considerado como compartimento à parte em nosso organismo, isolado da circulação sistêmica, cujo acesso é altamente restrito, já que é completamente envolvido por uma camada celular firmemente conectada entre si por junções oclusivas. Essa camada age como uma verdadeira membrana lipídica, formando duas barreiras: a barreira hematoencefálica (BHE) e a barreira hematoliquórica (BHL) responsáveis pela manutenção da homeostasia do SNC (VRIES et al., 1997).
O transporte dos antibióticos através das barreiras que cercam o SNC depende de vários fatores, dos quais se destacam características dos fármacos como: lipossolubilidade, peso molecular, ligação a proteínas plasmáticas, capacidade de ionização e carga elétrica (LIN; SÁ, 2002).
É importante ressaltar que, mesmo dentro do espaço liquórico, não há uma distribuição homogênea. Por exemplo, após a administração endovenosa de qualquer antibiótico capaz de penetrar no SNC, podemos encontrar concentrações máximas no LCE da região lombar, concentrações intermediárias na cisterna cerebelo medular, enquanto as concentrações ventriculares são provavelmente menores daquelas atingidas no LCE (NAU; SORGEL; PRANGE, 1998).
Os antibióticos podem ser administrados aos animais sob suspeita de meningite bacteriana antes da obtenção dos resultados da cultura e dos testes de sensibilidade (FENNER, 1997). Alguns autores sugerem que deve ser administrada uma única injeção intravenosa de corticosteróides, antes da antibioticoterapia nos casos de meningite bacteriana (FENNER, 1997; LeCOUTEUR; CHILD, 1997).
Os antibióticos que atravessam a barreira hematoencefálica com ótima penetração são o trimetoprim, o metronidazol, o cloranfenicol e as sulfonamidas; com intermediária penetração são as penicilinas, as ampicilinas, a oxacilina, a carbenecilina, o ceftriaxone, o moxalactam e as tetraciclinas, e os com baixa penetração são as cefalosporinas de primeira geração, os aminoglicosídeos e a clindamicina (CHRISMAN, 1991). Várias cefalosporinas de terceira geração atingem concentrações efetivas no SNC, sendo consideradas os agentes mais adequados para tratamento da meningite por bactérias gram-positivas (LeCOUTEUR; CHILD, 1997).
Os antibióticos de eleição para as afecções neurológicas bacterianas são: ampicilina, cefalosporinas de 3° geração, metronidazol, cloranfenicol e sulfa com trimetoprim (DEWEY, 2003). Em geral, as tetraciclinas, agentes bacteriostáticos de amplo espectro, atingem apenas concentrações efetivas no SNC quando as meninges estão inflamadas. Entretanto as tetraciclinas mais modernas (doxiciclina e minociclina) penetram no SNC melhor do que outras tetraciclinas, tendo melhor atividade contra microorganismos anaeróbios e alguns aeróbios. A minociclina apresenta também efeitos neuroprotetores anti-apoptóticos para o SNC descobertos recentemente (STIRLING; KOOCHESFAAHANI; TETZLAFF, 2005).
Diversas afecções riquetsiais como febre maculosa das montanhas rochosas e erliquiose, podem produzir meningoencefalite em cães e que o tratamento com tetraciclinas parece ser efetivo, em termos da resolução dos sinais sistêmicos e neurológicos (FENNER, 1997; DEWEY, 2003).
O cloranfenicol atinge concentrações mais elevadas no LCE do que a maioria dos outros antibióticos; entretanto, este agente é bacteriostático, e foi demonstrado que muitos Staphylococcus são resistentes. O cloranfenicol pode ser administrado na dose de 40 mg/kg, IV, q6h, ou 50 mg/kg, VO, q8h em cães e 1-2 mg/kg, q12h em gatos, sendo seus efeitos adversos as gastroenterites em cães e gatos e a depressão da medula óssea em gatos (LEUCOTER; CHILD, 1997).
O tratamento da discoespondilite em animais sem deficiência neurológica, ou com deficiência neurológica leve, consiste no uso de antibiótico que seja efetivo contra o microorganismo, determinado por hemocultura, urocultura ou punção aspirativa. Os antibióticos que geralmente são efetivos para esta finalidade são as cefalosporinas, ou as penicilinas resistentes a beta-lactamase, como a oxacilina e a cloxacilina. A combinação de trimetoprim com sulfonamidas, ou cloranfenicol, são meios menos efetivos, mas menos dispendiosos e podem ser efetivos em certos casos (LEUCOTER; CHILD, 1997).
Se não houver resultados desses exames pode-se usar combinações de trimetoprim com sulfadiazina (15-30 mg/kg, q12h) ou cefalexina (30 mg/kg, q8h). Outros antibióticos que podem ser considerados em casos específicos são a enrofloxacina (5 mg/kg, VO, q12h) e ciprofloxacina (5,5-11 mg/kg, VO, q12h), devendo-se continuar a antibioticoterapia por 6-8 semanas (CHRISMAN et al., 2005).
Nos casos de toxoplasmose pode-se usar a clindamicina (10 mg/kg, VO, q8h) ou sulfa associada ao trimetoprim (15 mg/kg, VO, q12h) com duração de 2-4 semanas, porém a associação de sulfonamidas (30 mg/kg, VO, q12h) e a pirimetamina (0,25-0,5 mg/kg, VO, q12h) durante 2 semanas é mais efetiva do que o trimetoprim (DEWEY, 2003). Nos casos de polirradiculoneurite ou miosite causadas por infecções de Toxoplasma gondii e Neospora caninum, recomenda-se o tratamento precoce com sulfadiazina associado à trimetoprim na dose de 15-30 mg/kg, VO, q12h ou ormetoprim associado à sulfadiometoxina na dose de 15 mg/kg VO, q12h e clindamicina 5-0 mg/kg, VO, q12h. Também pode ser utilizada a pirimetamina 0,5-1 mg/kg, q24h por 3 dias e depois 0,25 mg/kg q24h, por mais 14 dias em cães e gatos, porém tem sido relatado supressão de medula óssea com o uso desse fármaco em pequenos animais (CHRISMAN et al., 2005).
O tratamento descrito para neosporose consiste na combinação de trimetoprim, pirimetamina, sulfonamidas e clindamicina. Contudo o grau de sucesso desses tratamentos é normalmente baixo, embora existam relatos de resolução completa dos sinais de neosporose em cão adulto com administração combinada de 1 mg/kg, q24h de pirimetamina e 20 mg/kg de sulfadoxina durante 30 dias (PAIXÃO; SANTOS, 2004). A neosporose neonatal canina deve ser tratada com clindamicina (12,5-18,5 mg/kg, VO, q12h) ou com a associação de sulfadiazina (30 mg/kg) combinada com pirimetamina (0,25-0,5 mg/kg q24h ou q12h) por duas a quatro semanas, esta última sendo mais efetiva (GENNARI; SOUZA, 2002).
Na próxima semana postarei sobre o uso dos anticonvulsivantes e barbitúricos.
Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 31, n. 3, p. 745-766, jul./set. 2010
Isabelle Valente Neves1; Eduardo Alberto Tudury2; Ronaldo Casimiro da Costa3
1 Médica Veterinária Autônoma. E-mail: isabellevalente@hotmail.com
2 Professor Adjunto, Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE. E-mail: tudury@nelore.npde.ufrpe.br
3 Professor de Neurologia e Neurocirurgia da The Ohio State University. ,E-mail: ronaldo.dacosta@cvm.osu.edu

5 comentários:

  1. minha cachorra Sofia foi tomar banho em um pet e qdo voltou estava toda traumatizada com a coluna embolada uma corcunda, não conseguia mexer a cabeça , então levamos ao veterinário imediatamente, ele disse que teve um trauma e está com hernia de disco e ´problema na coluna, estamos fazendo o tratamento a 20 dias, e não vejo resultado nenhum ela continua com muita dor, diminuímos seu espaço para ela ficar em repouso, mas nem precisa pois ela quase não anda, e está tomando um anti inflamatorio, dipirona, morfina e remedio para o estomago, só que a morfina vejo que todas as vezes que vou dar, ela treme muito, fico com medo em efeito colateral parece que ela fica estranha, gostaria de saber se estou fazendo a coisa certa ou devo procurar um outro profissional para uma opinião, ela tem 11kg, é uma basset teckel, estou danto 14 gotas de morfina. grata pela atenção. Roseli>> francagodoy@gmail.com.

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  5. MEU DEUS ESSE TIPO DE COISA AINDA VEJO NA VETERINÁRIA, O COLEGA LANÇA UM ARTIGO E LÁ VEM AS PERGUNTAS...
    A MINHA CADELA OU O MEU CÃO...
    ISSO QDO NÃO PEDEM O CONTATO PRA MANDAR FOTOS E PERGUNTAS PELO WHATTS!!
    SE FOSSE SEUS FILHOS O QUE FARIAM?
    SIMPLES !!!

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