Estudo de caso do Veterinary Ophtalmology (2000) 3, 241-246. John Sapienza; Francisco Domenech; Angeles Prades-Sapienza. O artigo foi gentilmente cedido pela Dra. Paula Diniz Galera, DVM, MSc, PhD
Profª Adjunta de Cirurgia Veterinária - FAV/UnB/Brasil
Pos-doctoral student - University of Florida.
OBS: Aos colegas oftalmologistas veterinários, quaisquer erros ou expressões inadequadas consequentes do processo de tradução, favor encaminhá-los na parte de comentários ou pelo e-mail da seção perfil. Grato. Boa leitura!
A uveíte não associada às desordens sistêmicas ou agentes infecciosos é frequentemente observada em cães Golden Retriever. A uveíte pigmentar é supostamente hereditária nesta raça e apresenta-se como aderências entre a íris e o cristalino e um borrão de pigmento ("pigment dispersion") presente na periferia da íris e córnea através da cápsula anterior do cristalino.
Profª Adjunta de Cirurgia Veterinária - FAV/UnB/Brasil
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A uveíte não associada às desordens sistêmicas ou agentes infecciosos é frequentemente observada em cães Golden Retriever. A uveíte pigmentar é supostamente hereditária nesta raça e apresenta-se como aderências entre a íris e o cristalino e um borrão de pigmento ("pigment dispersion") presente na periferia da íris e córnea através da cápsula anterior do cristalino.
Recentemente, um relato de Deehr e Dubielzig demonstrou que 13 de 25 cães Golden Retriever com glaucoma tinham evidências histológicas de cistos epiteliais iridociliares, e estes podem predispor os cães afetados a desenvolverem glaucoma.
Os objetivos deste artigo são mostrar vários casos de uveíte primária do Golden Retriever e mais adiante estabelecer a relação da presença de cistos iridociliares com o glaucoma secundário nessa raça.
Materiais e métodos:
Relatos de 75 cães da raça Golden Retriever (39 fêmeas castradas, 32 machos castrados e 4 machos inteiros) com uveíte associada a nenhuma doença sistêmica após prévio exame físico e sorológico para erliquiose, febre maculosa e borreliose estavam disponíveis para avaliação.
Pigmento presente na cápsula anterior do cristalino disposto de forma radial ou multifocal associado ou não a cistos da úvea, foi considerado o sinal clínico inicial mais frequente (figura 1).
Todos os cães receberam avaliações oftálmicas completas com biomicroscopia por lâmpada de fenda, oftalmoscopia indireta, tonometria de aplanação e gonioscopia.
Ao primeiro exame apenas 9 cães apresentaram alterações em um olho, posteriormente um desses cães apresentou uveíte bilateral.
A faixa etária dos pacientes foi de 4 anos e meio a 14 anos e meio, com média de 8 anos e meio.
Visíveis cistos iridociliares foram observados em 13,3% dos casos e um caso de cisto uveal preenchido por sangue foi identificado, sendo que o sangue levou 5 meses para ser reabsorvido pelo organismo (figuras 2 e 3).
De 142 olhos, 52 apresentavam formação de fibrina na câmara anterior e com o passar do tempo, 19 olhos desenvolveram glaucoma (figura 4).
O diagnóstico de glaucoma foi realizado em 66 olhos e foi baseado nos sinais clínicos de estrias corneanas, buftalmia, atrofia do nervo óptico com ou sem aumento da pressão intra-ocular. Trinta e oito olhos já apresentavam o problema na primeira inspeção dos pacientes e o tempo médio em que os outros olhos desenvolveram glaucoma foi de 9.4 meses.
Dos 4 casos em que houve enucleação do globo ocular, 3 demonstraram evidências de cistos epiteliais iridociliares. Também foram observados cistos aderidos à cápsula anterior do cristalino que se espalhavam até a câmara posterior.
A terapia utilizada nos pacientes teve como objetivo combater a uveíte e minimizar a ocorrência de glaucoma. Nos casos em que houve a formação de fibrina na câmara anterior, foi utilizada a prednisolona tópica e injeções subconjuntivais de betametasona. AINES tópicos foram prescritos mas resultaram em aumento da pressão intra-ocular.
O tratamento medicamentoso para o glaucoma incluiu timolol, dorzolamida e diclorfenamida oral, porém foram ineficazes em controlar o aumento da pressão intra-ocular em todos menos um cão. Apesar do tratamento conservador e cirúrgico, 46% dos olhos examinados ficaram com perda de visão pelo glaucoma.
O prognóstico desta uveíte de caráter progressivo é reservado, principalmente nos casos avançados que apresentam sinéquia posterior e formação de fibrina.
O glaucoma de ângulo fechado secundário aos cistos do corpo ciliar e da íris parece ter um papel hereditário autossômico dominante.
Mais investigações para definir o papel dos cistos iridociliares em cães Golden Retriever são necessárias (primeiro ocorre a formação do cisto e depois a inflamação, ou vice-versa??).
Esquema simplificado da anatomia do olho. |
Pigmentação presente na cápsula anterior do cristalino em orientação radial. |
Pigmentação da cápsula anterior do cristalino com cistos iridociliares sobrepostos |
Cisto uveal preenchido por sangue localizado na câmara posterior. |
Grande tampão de fibrina localizado na câmara anterior aderido à cápsula anterior do cristalino. |
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