quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Abordagem terapêutica do paciente neonato canino e felino: 2. Aspectos relacionados a terapia intensiva, antiparasitários e antibióticos


Os animais neonatos representam um desafio especial em terapêutica veterinária, pois diferem marcadamente dos cães e gatos adultos (Jones, 1987). Segundo Mathews (2005), o neonato apresenta “clearence” reduzido para muitas drogas em comparação aos indivíduos adultos e infantis, diferenças que ocorrem basicamente em virtude da maior concentração de água corpórea total, menor concentração plasmática de proteínas ligadoras de drogas e incompleta maturação do sistema hepato-enzimático, diferenças fisiológicas que determinam uma maior predisposição às reações de intoxicações mediadas por fármacos.

Ressuscitação cardiopulmonar

A ressuscitação do recém-nascido oferece grande dificuldade ao médico veterinário em virtude do tamanho diminuído, da rápida mudança dos parâmetros clínicos e da dificuldade de monitoração (Plumb, 2004). Especialmente para filhotes advindos de cirurgia cesariana, o processo de ressuscitação inicia-se pela pronta desobstrução das vias aéreas e estimulação do tórax, exercendo uma leve pressão positiva para promover a ventilação (Davidson, 2003). O suporte ventilatório deve incluir o fornecimento de fluxo de oxigênio constante via máscara, cateter nasal ou incubadora neonatal, prevenindo-se a isquemia tissular (MacIntire et al., 2005).

Como em neonatos não se observa o completo desenvolvimento dos sistemas compensatórios orgânicos, a abordagem emergencial do recém-nascido deve incluir os cuidados referentes à reversão dos quadros de hipotermia, hipoglicemia e hipovolemia, aumentando, assim, a sobrevida desses pacientes (Lee, 2004; MacIntire et al., 2005).

Estabelecida a abordagem primária de suporte, as seguintes drogas podem ser utilizadas nas condições específicas de ressuscitação cardiopulmonar de neonatos:

Cloridrato de Doxapram: A droga age aumentando os esforços respiratórios do paciente neonato, sendo indicada para os casos de hipóxia apneica, sobretudo para animais que receberam grande quantidade de fármacos depressores respiratórios como os opióides (Bill, 1997). No entanto, o fármaco apresenta uma curta duração de ação em filhotes (Plumb, 2004), tendo seus efeitos diminuídos também nos casos de hipóxia cerebral (Davidson, 2003). Na reversão da apnéia pós-parto, especialmente nos casos de filhotes advindos de cirurgias cesarianas, indica-se a administração sublingual de uma a duas gotas de cloridrato de doxapram (20mg/ml) por filhote, segundo Moore e Sturgess (2000).

Sulfato de Atropina: Grande controvérsia envolve o uso do sulfato de atropina na ressuscitação cardíaca neonatal, visto que nesses pacientes a bradicardia é freqüentemente causada por depressão miocárdica direta, secundária a hipóxia do músculo cardíaco, e não por mediação vagal (Plumb, 2004). Assim, a taquicardia induzida por ação anticolinérgica pode exercer efeitos adversos, exacerbando a hipóxia miocárdica (Davidson, 2003). Foi citado na revisão feita por Hosgood e Hoskins (1998) que os compostos anticolinérgicos não apresentam nenhum efeito em filhotes com menos de 14 dias de idade devido à imaturidade do sistema nervoso autônomo. 

Epinefrina: é uma droga simpatomimética de escolha para os casos de parada cardíaca de filhotes (Davidson, 2003). Segundo Plumb (2004), a posologia adulta (0,2mg/kg) garante ótimos resultados para filhotes, apesar de aumentarem os riscos de hipertensão.

PRÓXIMA SEMANA POSTAREI A PARTE SOBRE TERAPIA ANTIPARASITÁRIA. 

André Maciel Crespilho1,4, Maria Isabel Melo Martins2, Fabiana Ferreira de Souza3, Maria Denise Lopes1, Frederico Ozanam Papa1

1Dep. de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, UNESP, Botucatu,SP, Brasil

2Dep. de Clínicas Veterinárias da Universidade Estadual de Londrina, UEL, Londrina,PR, Brasil

3Hospital Universitário do Centro Universitário de Rio Preto, UNIRP, São José do Rio Preto, SP, Brasil

4Correspondência: andremacc@yahoo.com.br

Rev Bras Reprod Anim, Belo Horizonte, v.31, n.4, p.425-432, out./dez. 2007





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