sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Abordagem terapêutica do paciente neonato canino e felino: 2. Aspectos relacionados a terapia intensiva, antiparasitários e antibióticos

RETOMANDO O ASSUNTO DE 26/10. 



Terapia antiparasitária 

Parasitas intestinais são comuns em animais jovens, especialmente naqueles que vivem em condições tropicais e manejados em certo grau de confinamento (Root-Kustritz, 2004). Assim, os cuidados com filhotes incluem uma terapia anti-helmíntica de largo espectro e de baixa toxicidade, iniciada por volta de três semanas de vida e repetida 14 dias após (Davidson, 2003).

É provável que Toxocara spp., Toxascaris leonina e Ancylostoma sejam os parasitas que mais freqüentemente acometem cães e gatos neonatos (Sturgess, 2000), visto que as espécies de Toxocara podem ser transmitidas via transplacentária pela mãe, e as espécies de Ancylostoma podem ser ingeridas através do leite materno (MacIntire, 1999; MacIntire et al., 2005). Uma vez no hospedeiro, as larvas dos helmintos podem migrar para os pulmões e fígado, provocando tosse seca, dificuldade no ganho de peso, problemas cutâneos e distúrbios gastrintestinais (Minovich, 2004).

O tratamento de escolha indicado para toxocaríase e ancilostomose corresponde ao pamoato de pirantel, droga pertencente ao grupo das pirimidinas, de ação agonista a acetilcolina, que leva o parasita à morte por paralisia espástica (Andrade e Santarém, 2002). O fármaco apresenta baixo potencial de toxicidade sendo bem tolerado por filhotes (Marti, 2005). O tratamento pode ser iniciado em pacientes neonatos a partir de duas a três semanas de vida (MacIntire, 1999) nas dosagens de 5,0 a 10,0 mg/kg, repetidos a cada duas ou três semanas por até 12 semanas de tratamento (MacIntire et al., 2005).

O tratamento para as giardíases inclui o metronidazol na dosagem de 30 mg/kg/SID administrado oralmente por sete a dez dias (MacIntire, 1999), ou 20 mg/kg/BID administrado por via oral, por cinco dias e na seqüência 10 mg/kg/BID por via oral por mais cinco dias (Minovich, 2004), cabendo ressalva de que apenas dois terços das infecções são responsivas ao metronidazol administrado em dosagens usuais (Sturgess, 2001). O fenbendazol também pode ser utilizado por via oral na dose de 50 mg/kg/SID por três a cinco dias (MacIntire et al., 2005). Minovich (2004) indica a mesma posologia de fenbendazol em um tratamento de dez dias para as giardíases felinas, relatando ainda resultados excelentes com o uso da furazolidona na dose de 20 mg/kg/BID durante 14 dias.

Para o tratamento das coccidioses, relacionadas, entre outros fatores, com a falta de higiene dos recintos de criação e falhas de imunidade neonatal levando a quadros de imunossupressão (Sturgess, 2001), indica-se a sulfadimetoxina na dosagem de 30 mg/kg/SID até a remissão dos sintomas, para animais com menos de 1kg de peso vivo (Minovich, 2004). Para cães e gatos neonatos, MacIntire et al. (2005) também recomendam o uso das sulfas potencializadas na dose inicial de ataque de 50 mg/kg no primeiro dia de tratamento, seguida por 25 mg/kg/SID por mais dez dias ou até a remissão dos sintomas.

Pulgas e carrapatos são os parasitas externos mais comuns em animais jovens (Minovich, 2004), podendo resultar em sérios quadros de debilidade neonatal (MacIntire, 1999). Além da espoliação sangüínea causada pelos artrópodes, pulgas e carrapatos atuam também como vetores de uma série de doenças como as babesiose, hepatozoonose, erliquiose (Irwin, 2002), além de algumas espécies de tênias (Minovich, 2004).

Encontra-se disponível no mercado uma ampla variedade de produtos para o tratamento de ectoparasitoses dos filhotes; no entanto, nem todos são indicados para o uso em animais com menos de 12 semanas de vida (Sturgess, 2000). O tratamento preferencial para o combate das pulgas e carrapatos de animais com menos de dois meses de idade é feito por meio do banho com água morna (evitando-se a hipotermia) e a escovação do pêlo com pente antipulgas (Minovich, 2004). A abordagem sistêmica pode ser realizada com os produtos à base de imidacloprid, nitempyram e fipronil, que apresentam uma boa segurança para uso em filhotes (MacIntire et al., 2005). Sturgess (2000) afirma que o fipronil proporciona um tratamento seguro para cães de dois e gatos a partir de sete dias de idade, embora existam alguns relatos de intoxicação pelo veículo alcoólico componente de algumas apresentações comerciais do produto.

Para os casos de ectoparasitoses, indica-se também o tratamento das mães (evitando-se a área das mamas) e do ambiente em que vivem os filhotes, para o eficaz controle das infestações (MacIntire, 1999).

SEMANA QUE VEM SERÁ A PARTE FINAL SOBRE TERAPIA ANTIMICROBIANA. 


André Maciel Crespilho1,4, Maria Isabel Melo Martins2, Fabiana Ferreira de Souza3, Maria Denise Lopes1, Frederico Ozanam Papa1


1Dep. de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, UNESP, Botucatu,SP, Brasil


2Dep. de Clínicas Veterinárias da Universidade Estadual de Londrina, UEL, Londrina,PR, Brasil


3Hospital Universitário do Centro Universitário de Rio Preto, UNIRP, São José do Rio Preto, SP, Brasil


4Correspondência: andremacc@yahoo.com.br


Rev Bras Reprod Anim, Belo Horizonte, v.31, n.4, p.425-432, out./dez. 2007.

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