terça-feira, 20 de dezembro de 2011

FELIZ NATAL E BOAS FESTAS!!!

VENHO DESEJAR UM FELIZ NATAL PARA OS COLEGAS DE PROFISSÃO E AOS AMANTES EM GERAL DOS ANIMAIS DE COMPANHIA, UM 2012 REPLETO DE CONQUISTAS, VITÓRIAS, SAÚDE, SUCESSO E HARMONIA. NOVAS POSTAGENS SOMENTE EM JANEIRO. FELICIDADES A TODOS :)       PARA FECHAR 2011, VAI UM VÍDEO DA ORQUESTRA CANINA "CANTANDO" JINGLE BELLS! RSRS.  



Tosse em felinos.

Vídeo curto mas com informações valiosas. 



Dr. Alexandre G. T. Daniel ; Médico veterinário, mestre em clínica médica, especializado em medicina felina e prof da Universidade Metodista de SP. 







quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Breve relato de caso sobre uma criança diagnosticada com paralisia pela picada do carrapato

Primeiramente gostaria de agradecer ao colega Dr. Carlos Eduardo Vaz, CRMV/RJ 6917, pelo envio das fotos coloridas do artigo sobre Lynxacariose postado em 08/06/11. Muito obrigado! 

Bem, apesar do relato a seguir ser sobre medicina humana, achei-o muito interessante devido ao envolvimento do vetor carrapato e como o caso foi conduzido pelos pediatras. O texto original está em inglês, quem quiser ler, favor encaminhar o pedido de envio por e-mail. 

A paralisia causada pela picada do carrapato é uma síndrome neurológica frequentemente confundida com outras desordens agudas. Ela é caracterizada pela paralisia ascendente causada por potente neurotoxina produzida pelo carrapato.  A pronta remoção do carrapato leva à melhora do quadro clínico. 

RELATO DE CASO: 

Uma menina de seis anos de idade, sem histórico de doenças anteriores, relatou sensação de formigamento nos dedos e seis horas após começou a cambalear e cair. No dia seguinte, ela não conseguia andar sem ajuda. Trinta horas após o início dos sintomas ela foi levada ao hospital da faculdade de medicina da Georgia. 

Durante o exame inicial, a criança estava alerta, sem febre, andar atáxico e com instabilidade no tronco. Numa escala de 0 a 5, onde 5 correspondia a completa força muscular, ela apresentava a graduação de 4 nos braços e pernas. Os reflexos dos músculos extensores estavam diminuídos no joelho esquerdo e normais nas outras partes testadas. 

Os pares de nervos cranianos e o tônus do esfíncter retal estavam preservados. Radiografias torácicas e exames laboratoriais de rotina não apresentaram anormalidades, assim como a cultura fecal e os testes toxicológicos. 

Os diagnósticos diferenciais foram: ataxia cerebelar aguda, compressão de medula espinhal cervical e síndrome de Guillain-Barré (em rápida pesquisa li que polirradiculoneurite corresponde à outra nomenclatura da síndrome, é uma doença desmielinizante). 

Imagens de ressonância magnética da cabeça e coluna cervical não mostraram alterações, a análise do líquido cérebro-espinhal revelou 29mg/dl de proteína, 71mg/dl de glicose e contagem de 2 linfócitos por milímetro cúbico. A coloração de Gram e a cultura do líquido também resultaram normais. 

Este parágrafo cita termos médicos que atrapalham a tradução literal. Vai o que foi entendido: A condução nervosa do nervo ulnar estava com o tempo prolongado, 6msecs (valor normal < 2.5msecs). 

Após 48 horas de iniciados os sintomas clínicos, a criança tornou-se letárgica, a fraqueza simétrica das pernas piorou e a graduação de força muscular foi para 3 na escala de 0 a 5. Os movimentos finos, delicados dos dedos ficaram prejudicados e os reflexos dos músculos extensores dos joelhos e calcanhares estavam ausentes. 

Devido à paralisia ascendente e hipoventilação, a criança foi transferida para a unidade de terapia intensiva para monitoramento e a possibilidade de ser intubada. O consenso médico era de que a criança possuía a síndrome de Guillain-Barré.  

Completadas 72 horas do estabelecimento da doença, a força motora dos braços e pernas caiu para 2 na escala de 0 a 5, foram observadas indiferença aos estímulos externos, fala arrastada e ptose palpebral bilateral. Em razão da rápida evolução dos sintomas, a criança foi encaminhada para o preparo de acesso venoso femoral para plasmaferese de emergência. 

Durante a fixação do catéter central, um astuto residente ( originalmente está escrito "astute" rsrs, não irei trocar por sinônimos..rs) da pediatria alertou que a síndrome de Guillain-Barré pode ser confundida com paralisia pela picada do carrapato. Com o auxílio de um pente fino foi achado um carrapato de 15mm de diâmetro aderido ao couro cabeludo da paciente. Foi removido com pinças e identificado como uma fêmea de Dermacentor variabilis. 


Aproximadamente seis horas após da remoção do carrapato, os sinais de letargia, fala arrastada e ptose palpebral regrediram. Em oito horas a força dos braços evoluíram para a graduação 4 da escala de 0 a 5 e ela conseguia elevar os braços acima da cabeça. Com 12 horas ela mantinha-se sentada sem ajuda e elevava as suas pernas contra resistência moderada.  A ausência dos reflexos dos músculos extensores persistiu até 17 horas da remoção do carrapato. Finalmente ela andava sem ajuda após 24 horas. 


Ela recebeu alta hospitalar após 32 horas da remoção do carrapato. 

Muito legal esse artigo, um pente fino desvendou todo o quebra-cabeça rsrs. Só a medicina humana e a veterinária proporcionam essas coisas :-)  

A parte de discussão do artigo faz menção sobre poliomielite, botulismo, miastenia gravis, síndrome de Guillain-Barré, intoxicação por metais pesados, envenenamento por inseticida, desequilíbrios eletrolíticos, inalação de solvente e lesão medular. E o residente achou o carrapato vilão, rsrs. 

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W. F

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, M.D., C
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AVIS 
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, M.D., 
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HOMAS 
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WIFT 
, M.D.



From the Departments of Family Medicine (M.W.F.), Pediatrics (C.D.S.), and Neurology (T.R.S.), Medical College of Georgia, Augusta. Address reprint requests to Dr. Felz at the Department of Family Medicine, Medical College of Georgia, HB 4032, Augusta, GA 30912, or at mfelz@mail.mcg.edu.












quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

APLICAÇÃO DA ACUPUNTURA E MOXABUSTÃO NO CÂNCER EM PEQUENOS ANIMAIS

Application of Acupuncture and Moxibustion for Small Animal Cancer
Keum Hwa Choi, DVM, PhD, CVA, OMD, LAC

Complementary & Alternative Medicine, Department of Veterinary Clinical Sciences, Veterinary Medical Center, College of Veterinary Medicine, University of Minnesota, MN, USA

36th World Congress in Jeju, Korea.


Como o texto original está em inglês, a Dra Lena Safatle Ferrati, colaborou com a tradução. 

ST36 = STomach = estômago = E36
GV = VG (Vaso Governador)
SP = baço-pâncreas = BP
CV = VC (Vaso Concepção)
LI = Intestino Grosso = IG

  •    LENA SAFATLE FERRARI –CRMV/DF 1650
  • Graduada em Medicina Veterinária pela UPIS – Brasília/DF
  • Pós-graduação em Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais (Qualittas – Brasília/DF)
  • Pós-graduação em Acupuntura Veterinária (UPIS – Brasília / DF)
    Caanes Acupuntura Veterinária
    SCLN 408 - Bloco E - Loja 32 contato@caanes.com.br ; 
    (61) 3340-5959



A acupuntura tem sido implementada para aliviar sinais clínicos ou efeitos adversos gerados pela terapia convencional, incluindo dor, vômito, náusea ou anorexia.

A eletro-acupuntura também demonstrou ser benéfica nos casos de vômitos agudos devidos à quimioterapia e para controlar dor.

Zhang et al relataram que a eletro-acupuntura atenua a hiperalgesia associada ao câncer em ratos, em parte pela inibição da interleucina IL-1β na medula espinhal. A acupuntura pode ativar funções imunológicas por meio do aumento na quantidade de células sanguíneas e da melhor atividade linfocítica e das células natural-killer.

O tratamento com acupuntura realizado no Centro Médico Veterinário da Universidade de Minnesota é realizado para suavizar ou aliviar a dor, o desconforto gastrointestinal e a neutropenia. Logo que o tratamento convencional (quimioterapia, cirurgia ou radioterapia) é terminado, sessões adicionais de acupuntura não são realizadas. Moxabustão também tem sido usada para o alívio do desconforto gastrointestinal ou dor.

1.     *  O efeito da acupuntura para o desconforto gastrointestinal: O tratamento de acupuntura nos pontos ST 36, PC6 e LI11 é realizado, no mínimo, duas horas antes da quimioterapia.  Estudos retrospectivos mostraram que pacientes submetidos à acupuntura tiveram menos diarréia, vômitos e anorexia causada pela quimioterapia.

2.    *  O efeito da acupuntura para a neutropenia: O tratamento de acupuntura nos pontos ST36, SP6 e GV4 tem sido aplicado uma ou duas vezes por semana em cães com neutropenia causada pela quimioterapia.

3.     *  O efeito da acupuntura para a dor: Os pontos selecionados incluem geralmente LI4 e SP21.

4.     * A aplicação de moxabustão em pacientes com câncer: Moxabustão indireta foi aplicada nos locais de câncer medular espinhal , tireoidiano, osteossarcoma e câncer de pele. Ela também foi aplicada nos pontos ST36, SP6 e CV12 nos pacientes com deficiência de Qi e Yang.

As ilustrações não fazem parte do artigo original. 





Referências: 

1.  Carneiro ER, Xavier RA, De Castro MA, et al. Electroacupuncture promotes a decrease in inflammatory response associated with Th1/Th2 cytokines, nitric oxide and leukotriene B4 modulation in experimental asthma. Cytokine 2010;50(3):335–340.
2.  Cho JH, Jung HH. Manual acupuncture improved quality of life in cancer patients with radiation-induced xerostomia. J Alternat Compl Med 2008;14:523–526.
3.  Ernst E, Lee MS. Acupuncture for palliative and supportive cancer care: a systematic review of systematic reviews. J Pain Sympt Manag 2010;40(1):e3–5.
4.  Ezzo J, Vickers A, Richardson MA, et al. Acupuncture-point stimulation for chemotherapy-induced nausea and vomiting. J Clin Onco. 2005;23:7188–7198.
5.  Ezzo JM, Richardson MA, Vickers A, et al. Acupuncture-point stimulation for chemotherapy-induced nausea or vomiting. Cochrane Database Syst Rev 2006;(2):CD002285.
6.  Jedel E. Acupuncture in xerostomia - a systematic review. J Oral Rehabil 2005;32:392–396.
7.  Kim HW, Roh DH, Yoon SY, et al. The anti-inflammatory effects of low- and high-frequency electroacupuncture are mediated by peripheral opioids in a mouse air pouch inflammation model. J Alt Complement Med. 2006.;2(1):39–44.
8.  Lai M, Wang SM, Zhang WL, et al. Effects of electroacupuncture on tumor growth and immune function in the Walker-256 model rat. Zhongguo Zhen Jiu2008;28(8):607–609.
9.  Lee MS, Choi TY, Park JE, et al. Moxibustion for cancer care: a systemic review and meta-analysis. BMC Cancer 2010;7(10):130.
10. Lee H, Schmidt K, Ernst E. Acupuncture for the relief of cancer-related pain - a systematic review. Eur J Pain. 2005;437–444.
11. Lu BW, Hu D, Dean-Clower E, et al. Acupuncture for chemotherapy-induced leukopenia: exploratory meta-analysis of randomized controlled trials. J Soc Integr Oncol2007;5:1–10.
12. O-Sullivan EM, Higginson IJ. Clinical effectiveness and safety of acupuncture in the treatment of irradiation-induced xerostomia in patients with head and neck cancer: a systematic review. Acupunct Med 2010;28(4):191–199.
13. Paley CA, Johnson MI, Tashani OA, et al. Acupuncture for cancer pain in adults. Cochrane Database Syst Rev 2011;19:(1):CD007753.
14. Pei J, Wei H, Liu ZD, et al. Effects of moxibustion on the expression of IL-1 beta, IL-2, IL-6 mRNA and protein in the cerebral cortex in tumor-bearing mice. Zhen Ci Yan Jiu 2010;35(4):243–249.
15. Vickers AJ, Cronin AM, Maschino AC, et al. Individual patient data meta-analysis of acupuncture for chronic pain: protocol of the Acupuncture Trialists' Collaboration.Trials 2010;28(11):90.
16. Wang WJ, Lu J, Niu CS, et al. Moxibustion for cancer care: a systematic review and meta-analysis. BMC cancer 2010;7(10):130.
17. Zhang RX, Li A, Liu B, et al. Electroacupuncture attenuates bone cancer pain and inhibits spinal interleukin-1 beta expression in a rat model. Anesth Analg2007;105(5):1482–1488.
18. Zhao ZQ. Neural mechanism underlying acupuncture analgesia. Prog Neurobiol 2008;84:355–375.







terça-feira, 29 de novembro de 2011

ABORDAGEM CLÍNICA DE PROBLEMAS NA COLUNA VERTEBRAL E MEDULA ESPINHAL.

Ronaldo Casimiro da Costa, MV, MSc, PhD.
Diplomado ACVIM (American College of Veterinary Internal Medicine) - Neurologia. 
Universidade Federal do Paraná - Campus Palotina, Palotina, PR. 

Resumo da palestra apresentada no VI Congresso Paulista de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais, 20-22 de Setembro de 2006, São Paulo, SP.


Os problemas na coluna vertebral e medula espinhal de cães são a apresentação mais comum em neurologia. Existem diversos aspectos importantes que devem ser levados em consideração para que se obtenha sucesso no diagnóstico e tratamento desses pacientes. Alguns destes pontos serão apresentados a seguir. 

A resenha e a anamnese devem ser analisadas cuidadosamente. Embora a doença do disco intervertebral (DDIV) apresente alta incidência em cães, é muito incomum a ocorrência de DDIV em cães com menos de 2 anos de idade. Na maioria dos casos, o trauma agudo da medula espinhal deve causar sinais agudos e não progressivos, sendo incompatível com a apresentação crônica e progressiva. Em princípio, apresentações agudas não progressivas dos distúrbios da medula espinhal são observadas apenas em processos traumáticos ou vasculares. 

A avaliação da postura e da locomoção é o principal teste para os pacientes com problemas locomotores. A locomoção deve ser avaliada em uma área ampla, não escorregadia, de preferência fora do consultório. O tronco, os membros torácicos e pélvicos devem ser avaliados por todas as direções. Quando se avalia a locomoção, deve-se responder a três perguntas: 

1) A locomoção é normal ou anormal? 
2) Se for anormal, qual(is) membro(s) está(ão) afetado(s)? 
3) Qual o tipo de anormalidade presente? Ataxia? Paresia? Claudicação? 

Desses, a identificação de ataxia é a mais importante. Há 3 tipos de ataxia: vestibular (geralmente associada com inclinação da cabeça), cerebelar (caracterizada por hipermetria e tremores intencionais, dentre outros sinais) e proprioceptiva, que é a comumente observada em distúrbios da medula espinhal. 

Como regra geral, doenças da medula espinhal, afetando a substância branca, são caracterizadas por ataxia proprioceptiva. Ataxia é um conceito extremamente importante para a identificação de problemas neurológicos e localização de lesões. Se o paciente não tiver ataxia, o problema pode estar afetando uma região da coluna vertebral onde a medula espinhal não está presente (ex: região lombossacra), ou qualquer outro do neurônio motor inferior (substância cinzenta medular, nervo espinhal ou periférico, junção neuromuscular ou músculo). 

As reações posturais são testes fundamentais na avaliação de paciente com problemas neurológicos. Embora a literatura descreva vários testes, na prática somente dois são necessários: posicionamento proprioceptivo (propriocepção) e salto ou saltitar. A propriocepção é o teste mais importante. A reação de saltitar serve principalmente para detectar lesões assimétricas não observadas à locomoção ou à propriocepção. Deve-se fazer o cão saltar apenas lateralmente.

Para a avaliação da propriocepção, o peso do paciente deve ser completamente suportado e o teste realizado nos membros pélvicos e torácicos, atentando-se para dobrar cuidadosamente as extremidades dos membros. O paciente deve reposicionar o membro imediatamente. Em geral, se o posicionamento proprioceptivo estiver retardado, pode indicar um problema neurológico, mas não localiza o problema, visto que lesões em qualquer parte da via ascendente ou descendente podem retardar a resposta proprioceptiva (nervo periférico e espinhal, medula espinhal, tronco encefálico, córtex ou tálamo cerebral). 

Deve-se atentar à 2 pontos fundamentais: 

1) Cães com problemas ortopédicos crônicos podem apresentar retardo no reposicionamento proprioceptivo sem evidência de lesões de neurológicas. 

2) Pacientes com mielopatia crônica podem ter propriocepção intacta. 

A propriocepção não diferencia problemas neurológicos de ortopédicos, quem diferencia é o exame da locomoção. A identificação de mielopatia deve ser feita pela presença de ataxia. A propriocepção pode estar normal ou diminuída em pacientes com mielopatias crônicas. 

Os reflexos segmentares ajudam a definir a localização da lesão. Reflexos normais ou aumentados indicam que a lesão está localizada cranial à região de origem dos nervos testados. O autor avalia rotineiramente os seguintes reflexos: reflexo patelar e flexor dos membros pélvicos, reflexo flexor nos membros torácicos, reflexo perineal e reflexo cutâneo do tronco. Não há necessidade de se testar os outros reflexos no membro torácico se o paciente for capaz de sustentar o próprio peso. O tônus muscular dos músculos extensores também é um reflexo e deve ser avaliado. 

Quando se avalia os reflexos, principalmente o patelar, o importante é saber se o reflexo está presente, diminuído ou ausente. Se o reflexo estiver presente não faz muita diferença se está normal ou aumentado, pois ambos achados são sinais de neurônio motor superior. Para o reflexo flexor, o objetivo é não causar dor, mas apenas um estímulo suficiente para que se avalie o arco reflexo e a força de contração do membro. 

Após o exame dos reflexos realiza-se a palpação da musculatura epaxial para tentar identificar locais de dor espinhal. Isso ajuda na localização precisa da lesão para realização de estudos radiográficos simples ou avançados e é de extrema importância no diagnóstico diferencial. 

A nocicepção realizada através do pinçamento dos dígitos dos membros deve ser avaliada somente se o paciente estiver completamente paralisado. Pacientes com paraparesia (função motora parcialmente presente) devem ter nocicepção intacta. 

Mesmo que o paciente apresente-se com queixa de problema locomotor, os outros componentes do exame neurológico não devem ser negligenciados. A análise do estado mental pode indicar um envolvimento multifocal e a avaliação dos nervos cranianos pode revelar déficits que podem sugerir tanto uma lesão central (tronco encefálico) ou periférica (polineuropatia). 

A base da neurologia clínica é a correta localização de lesões. Se a lesão não for localizada corretamente, pouco importa o clínico ter a disposição recursos diagnósticos sofisticados, pois não saberá qual região deverá ser examinada. Se o exame neurológico não for realizado de forma ideal, déficits neurológicos importantes podem ser equivocadamente ignorados. Da mesma forma, outros achados podem ser considerados anormais, enquanto na verdade não os são. 

LEITURA COMPLEMENTAR: 

Parent JM. The canine and feline neurological examination CD-ROM, 2001. www.neuroexamination.com 

terça-feira, 22 de novembro de 2011

ANESTESIA INTRAPERITONEAL COM TIOPENTAL EM GATOS.

PESSOAL, GOSTARIA DE ANUNCIAR QUE QUEM SE INTERESSOU PELO ASSUNTO AUTO-HEMOTERAPIA, POSTADO EM 05/10/11, A SEÇÃO COMENTÁRIOS FOI BEM EXPLORADA. SAUDAÇÕES!



A castração precoce de cães e gatos vem sendo preconizada para diminuir a superpopulação, evitando a eutanásia e o abandono de animais (Faggella e Aronsohn, 1993). Para castração destes animais os procedimentos mais recomendados são a ovariosalpingohisterectomia (OSH) e orquiectomia, as quais são as cirurgias mais realizadas na prática clínica veterinária (Howe, 2006).

Devido à segurança, o protocolo anestésico mais recomendado para gatos submetidos à castração
cirúrgica é a indução com anestesia geral injetável e manutenção com anestésicos inalatórios Massone, 2008b; Bittencourt et al., 2008). No entanto, essa técnica requer intubação traqueal, aparelhagem adequada e treinamento dos profissionais. Por isso, a utilização desta técnica em campanhas de castração não é muito viável. Além disso, em gatos a intubação traqueal pode ser dificultada devido ao menor diâmetro da traquéia e também, freqüentemente, pela presença do reflexo laringotraqueal (Massone e Cortopassi, 2010). 

A anestesia intravenosa produz efeitos cardiovasculares discretos (Keegan e Greene, 1993), e ainda evita a contaminação ambiente por gases anestésicos (Beths et al., 2001). No entanto, a anestesia geral injetável requer a canulação de uma veia periférica, procedimento que pode ser perigoso em felinos agressivos, colocando em risco a mão do manipulador (Massone, 2008b). Além disso, em pacientes muito pequenos, pode ser difícil canular uma veia devido ao pequeno calibre dos vasos periféricos.

O tiopental é um barbitúrico hipnótico que produz anestesia geral de ultracurta duração (Massone,
2008a). Pode ser utilizado em felinos como agente único ou como agente indutor (Thurmon et al., 1996a; Bednarski, 2002). Permite a obtenção de bons planos anestésicos que variam de acordo com a dose aplicada (Massone, 2008a). A dose para pequenos animais é de 25 mg/kg, por via intravenosa, quando não se utiliza tranqüilizante previamente (Bednarski, 1996; Massone, 2008a). Quando se utiliza tranqüilizante na pré-anestesia, a dose pode ser reduzida para 6-12 mg/kg (Bednarski, 2002).

O tiopental deprime o sistema cardiovascular (Thurmon et al., 1996a; Massone, 2008a) e a respiração. Causa queda da pressão e queda da temperatura, devido à depressão do metabolismo basal (Thurmon et al., 1996a). Em gatos agressivos os barbitúricos podem ser administrados por vias alternativas, tais como a intraperitoneal (Massone, 2008b).

O objetivo deste estudo foi avaliar a utilização de tiopental intraperitoneal como protocolo anestésico para realização de OSH e orquiectomia em gatos jovens, principalmente para utilização em mutirões de castração.

Material e métodos

Foram utilizados 20 gatos, com idade mínima de três meses e máxima de seis meses, clinicamente
saudáveis, oriundos da clientela de um Hospital Veterinário Universitário (HVU).

Todos os felinos foram pesados, examinados clinicamente e submetidos a jejum sólido de 12 horas e hídrico de 6 horas. No pré-operatório, em todos os animais foram aferidos temperatura (T) através de introdução de um termômetro clínico no reto, freqüência respiratória (f) por contagem dos movimentos costais e frequência cardíaca (FC) através de auscultação. Foram incluídos no experimento apenas animais clinicamente saudáveis.

Todos os parâmetros (T, f, FC) foram aferidos também após administração da medicação pré-anestésica, após administração do anestésico e de 10 em 10 minutos até o término do período hábil
anestésico.

Todos os animais foram premedicados com flunixin-meglumine na dose de 0,5 mg/kg e penicilina
benzatina na dose de 40.000UI/kg por via intramuscular (IM) Foi administrada acepromazina na dose de 0,2 mg/kg e tramadol na dose de 2 mg/kg associados na mesma seringa IM. A anestesia foi realizada por injeção intraperitoneal de tiopental a 2,5% na dose de 30 mg/kg. O fármaco foi injetado no quadrante inferior esquerdo do abdômen (Thurmon et al., 1996b), aproximadamente um cm caudal e um cm lateral à cicatriz umbilical (Figura 1) e foi registrado o período de latência.




Foram avaliados relaxamento dos pedículos ovarianos, coto uterino e cordão espermático, os quais foram classificados em ótimo, bom e regular (Mastrocinque et al., 2006). Foi registrado o período hábil anestésico, o qual foi considerado desde a perda do reflexo interdigital (estimulado por pinça hemostática), até o retorno do mesmo (Massone, 2008b). Foram consideradas complicações anestésicas alterações de freqüência cardíaca e/ou respiratória em torno de 20% do valor basal, arritmias cardíacas e queda da temperatura em torno de 20% do valor basal (Mastrocinque et al., 2006).

Resultados e discussão

Em todas as etapas do estudo não ocorreram óbitos. Na pré-medicação todos os animais ficaram tranqüilizados, permitindo manipulação sem estresse.

A técnica de administração por via intraperitoneal foi fácil e rápida. Após a introdução do anestésico, os animais levaram, em média 12 minutos para entrar em plano anestésico com perda do reflexo interdigital.


Os resultados obtidos a partir da avaliação dos parâmetros clínicos (T, f, FC) obtidos no pré-operatório, após administração da medicação pré-anestésica, após administração do anestésico e ao longo do período hábil anestésico (de 10 em 10 minutos) estão apresentados nas Figuras 2, 3 e 4 e demonstram queda acentuada após o estabelecimento da anestesia. Devido à redução da temperatura todos os felinos foram mantidos em colchão térmico no período pós-cirúrgico durante aproximadamente 2 horas.





O período hábil anestésico (considerado desde a perda do reflexo interdigital até a recuperação do
mesmo) variou de 50 minutos até 143 minutos, com uma média de 90 minutos. O relaxamento dos
pedículos ovarianos, cotos uterinos e cordão espermático foi considerado ótimo em 15 animais (75%) (n=20) bom em dois gatos (10%) e regular em três animais (15%). Durante o retorno anestésico cinco felinos (25%) apresentaram movimentos de pedalar. Não houve registro de vocalização e não foram observados quaisquer outros efeitos adversos em todas as fases da anestesia.

A dose de tiopental utilizada no presente estudo pode ser considerada alta em comparação com a dose recomendada por via intravenosa quando se utiliza tranqüilizante na pré-anestesia (6-12 mg/kg) (Bednarski, 2002), como foi feito neste estudo. No entanto, a via é diferente e não foram observados efeitos adversos devido à dose utilizada. Os efeitos observados como movimentos de pedalagem estão também presentes quando se administra tiopental por via intravenosa (Bednarski, 2002) e com o uso da quetamina em gatos (Mastrocinque et al., 2006). 

Um fator que poderia limitar o uso do tiopental IP é a ocorrência de irritação local devida ao ph alcalino do fármaco. No entanto, em estudo com ratos, o processo inflamatório produzido pela injeção IP de tiopental foi semelhante ao processo inflamatório produzido pela injeção IP de solução fisiológica, sendo considerada uma reação comum quando se administra fármacos por via IP. Além disso, o processo inflamatório foi transitório (Carregaro et al., 2005).

Como se observou em outro protocolo anestésico no qual se utilizou anestésicos gerais injetáveis para realização de gonadectomia em gatos impúberes (Mastrocinque et al., 2006), o relaxamento dos pedículos ovarianos, coto uterino e cordões espermáticos foram considerados satisfatórios e permitiram que as cirurgias fossem realizadas com analgesia adequada.

Saliente-se que a utilização de acepromazina (Bednarski, 2002) e opiáceos (Bednarski, 2002;
Mastrocinque et al., 2006) como o tramadol utilizados neste estudo, melhoram a analgesia e, consequentemente, a qualidade da técnica anestésica (Mastrocinque et al., 2006).

O período hábil anestésico permitiu a realização das cirurgias sem necessidade de mudança de protocolo ou complementação de anestésico como ocorreu em outro protocolo para anestesiar felinos jovens submetidos à castração (Mastrocinque et al., 2006).

Conclusão

O protocolo anestésico proposto é adequado para anestesiar felinos jovens, podendo ser usado em
mutirões de castração pela facilidade de administração e segurança.



Na minha opinião o trabalho científico é muito interessante com muitas vantagens, porém, o que achei negativo foi ter que manter TODOS os felinos aquecidos em colchão térmico por 2 horas no pós cirúrgico. Acho que numa campanha de esterilização com mais de 20 felinos, iria complicar o ritmo de trabalho. 

Thiago V. Silva, Ana M. Quessada*, Marcelo C. Rodrigues, Esther M.C. Silva, Rebeca M.O. Mendes, André B. Sousa 

Hospital Veterinário da Universidade Federal do Piauí, Centro de Ciências Agrárias, Campus Universitário, 64.049-550, Teresina, PI, Brasil. 

*Correspondência: quessadavet@gmail.com Tel: + 55 86 9983-9409; Fax: + 55 86 3215-5537





Bibliografia

Andersson BE e Jónasson H (1996). Regulação da temperatura e fisiologia ambiental. In: Dukes – fisiologia dos animais domésticos, 11a.edição. Editores: MJ Swenson. Guanabara Koogan (Rio de Janeiro), 805-841.

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