quarta-feira, 27 de julho de 2011

TRATAMENTO EXPERIMENTAL DE CÃES NATURALMENTE INFECTADOS COM O VÍRUS DA CINOMOSE NA FASE NEUROLÓGICA COM O USO DE RIBAVIRINA E DIMETIL-SULFÓXIDO (DMSO)

Boa quarta-feira aos colegas, o artigo é uma dissertação para obtenção de mestrado da Simone Henriques Mangia, UNESP-Botucatu, 07/03/08. Como o texto é longo com muitos gráficos e tabelas, o (a) colega que estiver interessado (a), posso passar a dissertação na íntegra via e-mail. Grato! Boa leitura! 


O experimento foi composto com a formação aleatória de dois grupos de cães naturalmente infectados com o vírus da cinomose apresentando sinais neurológicos. Não houve critério clínico para a divisão dos grupos, os animais foram incluídos pela ordem de atendimento.

Após o atendimento clínico, foi realizada a triagem, com a verificação da possibilidade de tratamento com a ribavirina, pois não entraram nos grupos animais que estavam sendo tratados com outros medicamentos ou com mais de 10 dias de sinais clínicos nervosos. Foram colhidas as amostras de sangue, urina e líquor dos animais. Estes receberam o tratamento sintomático e a ribavirina e sua associação com o DMSO de acordo com os grupos durante 15 dias consecutivos. Neste período, os animais ficaram internados para melhor avaliação clínica diária, realização de exames complementares e garantia de administração das drogas.

A princípio foram selecionados 26 animais com sinais neurológicos compatíveis com cinomose, no entanto, seis destes animais vieram a óbito em um curto período, com menos de sete dias e, por isso, não foram considerados na avaliação estatística. Este critério foi realizado por não termos informações a respeito do tempo necessário de administração da ribavirina para inibir a replicação viral “in vivo”, então o descarte teve como objetivo manter a fidelidade dos dados.

Os 20 cães utilizados com sinais clínicos neurológicos foram diagnosticados a partir do histórico de vacinação, desenvolvimento clínico da doença, exame físico e pela reação de imunofluorescência direta do sangue.

Para a inclusão na pesquisa, alguns sinais neurológicos característicos deveriam estar presentes, como: paresia, ataxia, mioclonias e/ou cegueira. Os animais que apresentavam convulsões não foram incluídos na avaliação estatística porque vieram a óbito com menos de sete dias de tratamento. Com o intuito de diminuir a influência da resposta imune da fase crônica nos resultados, incluímos apenas animais que apresentavam no máximo 10 dias de sinais neurológicos.




Os 20 animais foram divididos em dois grupos de 10, atendidos na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da UNESP – Botucatu, pelo serviço de Enfermidades Infecciosas dos Animais, no período de março a novembro de 2007.

O grupo 1 (G1) foi composto por animais com sinais clínicos neurológicos que receberam o antiviral (Ribavirina) durante 15 dias consecutivos e um tratamento de suporte e sintomático, incluindo suplementação vitamínica (A, B, C, E) como imunoestimulantes, fluidoterapia nos casos de desidratação e, às vezes, combinada com glicose nos casos de anorexia, antimicrobianos no combate as infecções secundárias, protetores de mucosa, como a ranitidina e antieméticos, como metoclopramida.

O grupo 2 (G2) foi formado pelos animais que também apresentaram sintomas neurológicos e que receberam, além do tratamento de suporte e sintomático, a ribavirina em associação com o DMSO.

O grupo controle (GC) foi composto por animais que foram tratados anteriormente pelo serviço de Doenças Infecciosas dos Animais, porém sem o uso do antiviral.

A Ribavirina foi administrada em altas doses por via oral com objetivo de atingir a concentração adequada no líquor e interferir na replicação viral. A dosagem intravenosa adequada em humanos é de 20 mg/Kg nos casos de panencefalite subaguda esclerosante, causada pelo vírus do sarampo, no entanto, a droga disponível na forma injetável no Brasil é extremamente cara e inviabiliza sua utilização em animais domésticos. A concentração no líquor capaz de inibir a replicação viral deve ser alta, aproximadamente 7,5 μg/mL, e considerando-se a sua prolongada eliminação do soro, foi administrada na dose de 30 mg/Kg, a cada 24 horas, durante 15 dias.

Para melhor ajuste da dose, sem interferir na concentração do medicamento, a ribavirina na forma de cápsulas foi diluída em água destilada estéril ou em Solução Fisiológica a 0,9%, na proporção de oito cápsulas de 250 mg do princípio ativo para 50mL, armazenada em frascos estéreis de cor âmbar em geladeira. Sendo assim, a solução obtida possuía a concentração de 40 mg/mL da ribavirina para ser administrada por via oral. A manipulação da droga foi realizada no Laboratório de Diagnóstico Microbiológico da Disciplina de Enfermidades Infecciosas dos Animais Domésticos da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da UNESP-Botucatu/SP.

O DMSO foi administrado por via intravenosa na dose de 20 mg/Kg de peso vivo, a cada 24 horas, no mesmo momento que o antiviral, no período de 15 dias. Para evitar reações à medicação, o composto foi diluído na concentração de 10 a 20% em água destilada ou em Solução Fisiológica a 0,9% estéreis.

No período de 15 dias referentes ao tempo de tratamento com a ribavirina, foram realizados hemogramas no 1º, 4º, 7º, 10º, 12º e 15º dias nos dois grupos. Os exames bioquímicos e de urina foram realizados nos dias 1º, 5º, 10º e 15º após o atendimento dos animais no Hospital Veterinário, UNESP – Botucatu. A colheita de líquor foi realizada no momento em que o animal chegou ao Hospital Veterinário e após 15 dias de tratamento com ribavirina.

 Os resultados confirmaram que no quarto dia de tratamento os animais do G2 não demonstravam mais o quadro de anemia. E concordando com os dados anteriores, obtivemos uma diferença significativa no décimo dia de tratamento entre os dois grupos, demonstrando estatisticamente que a resposta dos animais que receberam a associação da ribavirina com o DMSO teve uma resposta favorável ao combate da infecção pelo vírus da cinomose.

Com relação à série branca, os resultados demonstraram que não houve leucopenia na média da contagem total de leucócitos no primeiro dia. Porém no quarto dia de administração da droga houve uma diferença significativa entre os resultados do G1 e G2, mostrando que o grupo que recebeu a ribavirina associada com o DMSO obteve uma resposta imunológica melhor do que os animais do G1. Esta diferença na resposta imunológica, apesar de não apresentar nível de significância estatística, foi considerável até o décimo dia de tratamento. No 15º dia as contagens de leucócitos caíram nos dois grupos, sendo que o G1 apresentou leucopenia, que pode ser responsiva ao uso da ribavirina conforme a literatura.

Estes resultados nos permitem afirmar que o DMSO melhorou a ação da ribavirina sobre o vírus, que ficou evidenciado pela resposta imune.


No entanto, podemos observar que a linfopenia no G1 foi persistente em todos os momentos, ao contrário da encontrada no G2, apesar de não apresentar resultados com significância estatística. Contudo, o aumento no número de linfócitos na referida enfermidade é clinicamente significante com relação à melhora dos animais, demonstrando novamente que a associação da ribavirina com o DMSO foi mais eficaz na melhora clínica e hematológica destes animais.

CONCLUSÃO:

Os resultados do presente estudo permitem concluir que:

1. A ribavirina demonstrou atividade efetiva contra o vírus da cinomose em animais na fase neurológica, com melhora sensível do quadro clínico.

2. O DMSO mostrou-se capaz de potencializar a ação antiviral da ribavirina, aumentando o seu poder de difusão tecidual, tornando sua ação mais eficaz frente ao vírus da cinomose.

3. Os efeitos colaterais encontrados pela utilização da ribavirina foram: leve alteração em medula óssea observada pela anemia, imunossupressão expressa por linfopenia, branda lesão renal e gastrite.

4. A ribavirina foi capaz de diminuir a expressão do antígeno viral com conseqüente diminuição da produção de anticorpos no SNC, porém manteve uma pleocitose linfocítica no líquor.

5. A dose de 30 mg/Kg por via oral, a cada 24 horas, durante 15 dias foi eficaz contra a infecção viral. O monitoramento através de exames complementares deve ser realizado rotineiramente com intuito de acompanhar o surgimento de efeitos colaterais, mesmo que estes sejam reversíveis com a suspensão do tratamento.



quarta-feira, 20 de julho de 2011

FÁRMACOS UTILIZADOS NO TRATAMENTO DAS AFECÇÕES NEUROLÓGICAS DE CÃES E GATOS.


Antioxidantes e varredores de radicais livres

Alopurinol, mesilato de deferoxamina e DMSO podem ser usados no tratamento dos traumas craniano e medular agudos (DEWEY, 2003). A N-acetilcisteína (NAC) é um antioxidante potente que impede a destruição tecidual induzida por radicais livres, sendo utilizado na mielopatia degenerativa na dose de 25 mg/kg, q8h por duas semanas e posteriormente em dias alternados por mais duas semanas, tendo como objetivo a redução da progressão da doença (CHRISMAN et al., 2005).

O DMSO tem o potencial de reduzir a magnitude da necrose tecidual após lesão medular, protegendo a medula espinhal contra efeitos deletérios dos radicais livres induzidos pela peroxidação (EWAN, 1996). Estudos de microscopia eletrônica indicam que o DMSO, administrado uma hora após a lesão contusiva em cães, protegeu a bainha de mielina e axônios, reduzindo o edema e acelerando o retorno à função motora (BERGMAN; LANZ; SHELL, 2000). No entanto, em outro estudo realizado com gatos submetidos a trauma medular agudo, não se observou diferença significativa da eficácia do DMSO entre os grupos de animais tratados e não tratados (COATES et al., 1995). A dose recomendada no tratamento do edema ou traumatismo do SNC é de 0,5-1g/kg, IV, q24h, lentamente com solução a 10% (MCDONALD; LANGSTON, 1997).

O DMSO tem sido efetivo na redução da pressão intracraniana no trauma craniano, pois tem efeito neuroprotetor, reduzindo a oxigenação e requerimento de glicose pelo tecido cerebral, além da diminuição do edema devido a suas propriedades antiinflamatórias e diuréticas (BULLOCK, 1995).

Fármacos que atuam na função da micção

A disfunção no armazenamento da urina pela bexiga se dá pela hiperreflexia do músculo detrusor que ocorre devido a distúrbios cerebelares e doenças da medula espinhal crônicas. Os fármacos utilizados nestes casos são: brometo de propantelina 0,25-0,5 mg/kg, VO, q8h ou cloridrato de oxibutinina 2-5mg, VO, q8-12h (COATES, 2004).

A incapacidade de urinar se dá pela ausência ou incompleta contração da bexiga ou obstrução uretral (anatômica ou funcional). A ausência ou incompleta contração da bexiga está associada às lesões craniais à L7 (neurônio motor superior) sendo uma seqüela comum nos casos de mielopatia entre T3-L3, onde as vias motoras e sensitivas do reflexo detrusor estão afetadas. Também pode ocorrer nos casos de lesões medulares, sacrais, raízes nervosas e/ou plexo pélvico (COATES, 2004). A atonia da bexiga se dá quando esta se distende além de sua capacidade máxima. As obstruções urinárias podem ser devido a causas neurogênicas ou não neurogênicas. Na neurogênica é indicado o uso de fármacos que diminuem a resistência do esfíncter interno que é composto por fibras musculares lisas que mantém o tônus muscular através de impulsos simpáticos do nervo hipogástrico. Lesões na cauda eqüina podem ser associadas à incoordenação do esfíncter e conseqüentemente retenção urinária (FISCHER; LANE., 2003).

Os fármacos empregados são: a fenoxibenzamina 0,25-0,5 mg/kg, VO, q12-24h (COATES, 2004), cujos efeitos adversos são hipotensão e taquicardia e o prazosin 1 mg/15kg, VO, q12-24h em cães e 0,25-0,5 mg, VO, q12-24h em gatos, cujos efeitos adversos relatados são: hipotensão, taquicardia, sedação e ptialismo (FISCHER; LANE, 2003; COATES, 2004).
O diazepam é comumente adicionado ao tratamento com o propósito de relaxamento na musculatura esquelética na dose de 1-25mg, VO, q8h em gatos e 2-10mg, VO, q6h em cães, outros benzodiazepínicos como o alprazolan podem ser uma alternativa, quando o diazepam tiver que ser utilizado por longos períodos, porém seu efeito na musculatura uretral ainda não foi estudada (FISCHER; LANE, 2003). Outros relaxantes músculo-esqueléticos utilizados adicionalmente para promover o relaxamento uretral são dantrolene (0,5-2mg/kg, VO, q8h) e metocarbamol (inicialmente 66mg/kg, VO, q12g e posteriormente 33mg/kg, VO, q12h).

Nos casos de atonia ou hipotonia do detrusor o tratamento preconizado é o uso de betanecol 1,25-5mg, VO, q8h em gatos e 2,5-25mg, VO, q8h em cães ou 2,5-10mg, SC, q8h em cães sendo seus efeitos adversos vômito, diarréia, hipersalivação, hipotensão, dispnéia e bradicardia. A cisaprida (0,5mg/kg, VO, q8h,) e o propanolol (2,5mg, VO, q8-12h) também podem ser utilizados (FISCHER; LANE, 2003).

Na disautonomia a administração de fármacos parassimpatomiméticos como cloridrato de betanecol 5-25 mg, VO, q8h em cães e 2,5-5mg, VO, q8-12h em gatos pode aliviar alguns sintomas. Uma ou duas gotas de preparações oftálmicas de fisostigmina a 0,5% ou pilocarpina a 1% em ambos os olhos pode ter alguns efeitos sistêmicos (CHRISMAN et al., 2005).

Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 31, n. 3, p. 745-766, jul./set. 2010

Isabelle Valente Neves1; Eduardo Alberto Tudury2; Ronaldo Casimiro da Costa3

1 Médica Veterinária Autônoma. E-mail: isabellevalente@hotmail.com

2 Professor Adjunto, Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE. E-mail: tudury@nelore.npde.ufrpe.br

3 Professor de Neurologia e Neurocirurgia da The Ohio State University. ,E-mail: ronaldo.dacosta@cvm.osu.edu


quarta-feira, 13 de julho de 2011

FÁRMACOS UTILIZADOS NO TRATAMENTO DAS AFECÇÕES NEUROLÓGICAS EM CÃES E GATOS - PARTE III

CORTICOSTERÓIDES
As doenças neurológicas freqüentemente requerem terapia com corticosteróides (PLATT, 2002), sendo estes comumente prescritos em animais com doença espinhal devido a sua ação antiinflamatória e redução do edema. São mais efetivos em doenças neoplásicas ou inflamatórias do que infecciosas. O uso de corticosteróides no tratamento do trauma espinhal é comum, porém não é aceito mundialmente e o seu uso em doenças do disco intervertebral é polêmico. Os efeitos adversos do uso de corticosteróides, principalmente quando usados em altas doses e em tratamentos de longa duração são os efeitos gastrintestinais (úlceras) e imunossupressivos, também podendo aumentar a incidência de pancreatite (BAGLEY, 2005). Além desses, a terapia com corticosteróides a longo prazo pode causar também hepatopatias e miopatias (CHRISMAN et al., 2005).

A dexametasona pode causar complicações gastrintestinais mais severas quando comparada a prednisona e metilprednisona (THOMAS, 2002).

Pode-se fazer uso dos corticosteróides de duas formas distintas: em doses antiinflamatórias pode-se utilizar a dexametasona na dose de 0,15 mg/kg ou a prednisona na dose de 1 mg/kg ou em doses imunossupressivas no tratamento de afecções imunomediadas que ocorrem no SNC e sistema nervoso periférico (SNP), incluindo a meningite responsiva ao corticóide, miastenia grave, miosite mastigatória, polimiosite e meningoencefalomielite granulomatosa (MEG). A dose imunossupressiva de prednisona é 2-4 mg/kg q24h. Para terapêutica imunossupressiva pode-se usar a azatioprina na dose de 2mg/kg, q24h (PAPICH, 2004).

Os efeitos dos corticosteróides no SNC estão bem documentados. Indiretamente eles mantêm a concentração plasmática de glicose responsável pela função cerebral, manutenção do fluxo cerebral e influencia no balanço eletrolítico do SNC (PLATT; ABRAMSON; GAROSI, 2005).

Os corticosteróides também modulam a resposta inflamatória que resulta em necrose tecidual, diminuindo a desmielinização secundária ocorrente de 1-5 dias após o trauma craniocerebral (FENNER, 1997; PLATT; ABRAMSON; GAROSI, 2005).

A administração de corticosteróides em pacientes com trauma craniano é controversa (DEWEY; BUDSBERG; OLIVER, 1993). No passado foram utilizados protocolos para pacientes após 1 hora do trauma crânio-encefálico onde era administrado metilprednisolona (30 mg/kg) em injeção intravenosa rápida concentrada; em seguida, repetia-se esta injeção em 2-6 h (FENNER, 1997), contudo a literatura atual, principalmente sobre o traumatismo crânio-encefálico em humanos, não recomenda o uso rotineiro de corticosteróides (GHAJAR; HESDORFFER, 2004).

Em pacientes com injúrias parciais da medula com menos de 8h de evolução tem sido demonstrado bom resultado com a administração de succinato de metilprednisolona. A dose inicial é de 30 mg/kg, IV com doses adicionais de 15 mg/kg de 2-6h depois da dose inicial e depois q8h até completar 48h de tratamento depois do trauma (PLATT; ABRAMSON; GAROSI, 2005). Contudo este protocolo também tem sido questionado recentemente.

O protocolo utilizado na discopatia intervertebral degenerativa é de 0,25-1 mg/kg de prednisona, VO, q12h, com doses reduzidas por 30 dias. Nos casos de espondilomielopatia cervical ou síndrome de wobbler, cães levemente afetados podem melhorar com 0,25mg/kg de prednisona, VO, q12h (CHRISMAN et al., 2005).

Nas doenças bacterianas utiliza-se 0,15 mg/kg de dexametasona 15-20 minutos antes do início da terapia antimicrobiana (PLATT; ABRAMSON; CAROSI, 2005). O protocolo para o tratamento de meningite imunomediada em longo prazo com prednisona é 2 mg/kg, VO, q12h por dois dias, posteriormente redução para 1 mg/kg, q12h, por mais duas semanas e depois 0,5 mg/kg, q12h por um mês. Finalmente terapia por dias alternados durante 4-20 meses (CHRISMAN et al., 2005).

Nos casos de cinomose, erliquia, toxoplasmose e neosporose utiliza-se a dose de 1-2 mg/kg, IV de dexametasona. Nos casos de encefalomielite por peritonite infecciosa felina utiliza-se doses imunossupressivas e doses antiinflamatórias incluindo prednisona (2-4 mg/kg, VO, q24h) (BRAUND, 1997). Os corticosteróides podem ser eficazes na meningite imunomediada associada à erliquiose, e tratamentos curtos de 2-7 dias podem ser benéficos em caso de erliquiose com trombocitopenia concomitante (PLATT, 2002).

No acidente vascular cerebral a administração de corticosteróides não tem um efeito positivo, podendo alterar o tamanho do infarto ou hemorragia, mas provavelmente não reduzindo a pressão intracraniana, sendo o benefício da utilização nessa afecção questionável (PLATT, 2002).
Dentre as doenças imunomediadas neuromusculares a miastenia gravis pode ser tratada com doses imunossupressivas de prednisona 2-4 mg/kg durante duas semanas, reduzindo gradativamente a dose. Pode-se também iniciar com uma dose menor de prednisona (0,25 mg/kg q12-24h) e depois ir gradativamente aumentando ao longo de algumas semanas para impedir a deterioração clínica (SHELTON, 2002). Já nos casos de polimiosite idiopática e na miosite dos músculos mastigatórios deve-se administrar de 1-2 mg/kg, VO, q12h durante 2 e 3 semanas respectivamente com redução gradativa por alguns meses até fazer a retirada total do medicamento (PLATT, 2002).

Ciências Agrárias, Londrina, v. 31, n. 3, p. 745-766, jul./set. 2010

Isabelle Valente Neves ; Eduardo Alberto Tudury2 ; Ronaldo Casimiro da Costa3

1 Médica Veterinária Autônoma. E-mail: isabellevalente@hotmail.com
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2 Professor Adjunto, Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE. E-mail: tudury@nelore.npde.ufrpe.br

3 Professor de Neurologia e Neurocirurgia da The Ohio State University. ,E-mail: ronaldo.dacosta@cvm.osu.edu

domingo, 10 de julho de 2011

Beagle após duas sessões de hemodiálise - Renalvet


Valor de referência para uréia = 10-60mg/dl
Valor de referência para creatinina = 0,5-1,6mg/dl  

Material autorizado a ser publicado pelo Dr. Márcio Bernstein.
Médico veterinário com especialidade em Nefrologia e acupuntura veterinária.
Responsavel pelos setores de Nefrologia, Hemodialise e Tomografia da RENALVET Rio, Sao Paulo e demais Franquias.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

FÁRMACOS UTILIZADOS NO TRATAMENTO DAS AFECÇÕES NEUROLÓGICAS DE CÃES E GATOS PARTE II

Texto muito bom e esclarecedor, pois não tive a chance de atender gatos com epilepsia. Não sabia que o diazepam via oral funciona bem em gatos. Outra coisa que chamou a atenção é que o autor cita que a difenilhidantoína é contra-indicada em cães e gatos...pergunto: E o medicamento EPISOL da Konig?? Diazepam + difenilhidantoína...Luz de algum colega????

Anticonvulsivantes e barbitúricos

Os anticonvulsivantes são medicamentos utilizados em pacientes que apresentam convulsões ou epilepsia. São utilizados como medicamento único em cães que apresentam epilepsia ou em associação com outros medicamentos quando a origem das convulsões se deve a uma alteração metabólica ou orgânica em progressão (MANNO, 2003; PELLEGRINO, 2003).
A maioria dos anticonvulsivantes possui efeito antiepileptogênico ou neuroprotetor. Este consiste no aumento da resistência a apoptose à qual conduz às crises convulsivas por meio de diferentes mecanismos. Por estes motivos, embora o animal não esteja livre das crises convulsivas, o dano que elas provocam será consideravelmente menor se o paciente for medicado, evitando a deterioração neuronal progressiva (MANNO, 2003; PELLEGRINO, 2003). (NÃO SABIA!!!!)
Poucas medicações eficazes em seres humanos podem ser apropriadas em cães, sendo o fenobarbital o mais indicado (ARIAS; NETO, 1999).
 O fenobarbital é uma medicação eficaz, segura, barata e com poucos efeitos colaterais além da sedação, sendo o fármaco de primeira escolha em cães e gatos, controlando de 60 a 80% dos cães epiléticos, caso a concentração sérica seja mantida dentro da faixa adequada (25-35 μg/mL) (CHRISMAN, 1997; BOOTHE, 1998; ARIAS; NETO, 1999; GASKILL et al., 1999; MAGUIRE et al., 2000; SILVA et al., 2006). Na experiência dos autores a dose de 2,5 mg/kg, VO, q12h é suficiente para cães adultos. Em filhotes geralmente é necessário doses superiores a 4 mg/kg, VO, q12h, variando de 4-8 mg/kg q12h (PODELL, 2004). Outros autores sugerem que em filhotes o fenobarbital seja administrado a cada 8 horas, devido à sua rápida metabolização nesta faixa etária (ARIAS; NETO, 1999).
Amaral e Larsson (2006) recomendam que a colheita com propósito de monitoração, seja realizada quatro semanas após o início do tratamento, devido à ampla variação na meia vida de eliminação. O nível sérico de referência normal é 20-40 μg/mL, porém o nível mais seguro é de 15-30 μg/mL e o ótimo está entre 20-25μg/mL, sendo o nível sérico acima de 35 μg/mL relacionado ao desenvolvimento de hepatotoxicidade (CHRISMAN, 1997; PODELL, 2004).
Os efeitos adversos mais comuns associados ao uso contínuo do fenobarbital incluem polidipsia, polifagia, letargia e sedação, além da hepatotoxicidade (PODELL, 2004).
Devido à baixa solubilidade em lipídios, quando aplicado pela via intravenosa (IV) demora 15-20 minutos para ultrapassar a BHE, levando, portanto 20-30 minutos para controlar a crise convulsiva. Portanto nos casos de estado epiléptico recomenda-se à administração de diazepam, que atua em 2-3 minutos, seguida pela administração de fenobarbital em doses fracionadas de 2-4 mg/kg a cada 20 ou 30 minutos. Ao invés de doses fracionadas pode-se aplicar uma dose de ataque de 12-24 mg/kg, IV, para que a concentração terapêutica seja atingida rapidamente, se for a primeira vez que o paciente estiver recebendo fenobarbital.
A epilepsia é considerada refratária ao fenobarbital quando o nível sérico terapêutico é atingido e o paciente continua a apresentar crises convulsivas em uma grande frequência. Não se pode considerar o paciente refratário ao fenobarbital se o nível sérico da medicação não foi avaliado, pois não existe correlação entre a dose oral e a concentração sérica (FARNBACH, 1984).
A avaliação sérica do fenobarbital nos primeiros meses e depois, no mínimo, anualmente é uma condição absoluta para o uso correto do fenobarbital. Em casos verdadeiramente refratários, deve-se considerar a utilização de um segundo anticonvulsivante. Se esta necessidade for comprovada, é importante ressaltar que a terapia jamais deve ser cessada subitamente, devido ao risco do desenvolvimento de estado epiléptico grave. Assim, o próximo passo é a adição de um segundo anticonvulsivante, sendo o brometo de potássio o mais indicado (PEARCE, 1990; ARIAS; NETO, 1999).
Os gatos são mais sensíveis aos efeitos sedativos e eliminam mais lentamente o fenobarbital, sendo assim o seu nível sérico ideal é de 10-20μg/mL, e dose de 1-2 mg/kg, q24h, inicialmente à noite e posteriormente a cada 12 horas. Os gatos podem receber 1-2 mg/kg de diazepam VO, q12h. Nos casos de epilepsia refratária é recomendada a associação do diazepam com o fenobarbital na dose de 0,5-2 mg/kg, dividida q8-12h (PODELL, 2004). O diazepam oral é anticonvulsivante efetivo em gatos, mas não em cães. O nível sérico é de 200-500mg/mL (CHRISMAN, 1997).
O brometo de potássio (KBr) possui uma estrutura molecular única comparada com os outros anticonvulsivantes. Ele não é metabolizado pelo fígado, podendo ser administrado em cães hepatopatas e é excretado pela urina (PEARCE, 1990).
Não é recomendado em gatos, sendo relatados problemas respiratórios. Cristais de KBr dissolvidos em água bidestilada (250mg/mL) e administrados na dose de 30 mg/kg, VO, q24h numa das refeições quando associada ao fenobarbital, ou 40 mg/kg, q24h quando usado isoladamente (PODELL, 2004).
Os clientes devem ser instruídos para que usem luvas, porque o KBr pode ser absorvido através da pele e é tóxico para seres humanos. (NÃO SABIA!!). Os níveis séricos efetivos de KBr variam de 500-1500 μg/mL (PEARCE, 1990). O nível sérico na monoterapia do brometo é de 2000-3000mg/L e quando associado ao fenobarbital é de 1500-2500mg/L (PODELL, 2004).
Outros fármacos pouco utilizados no tratamento da epilepsia são primidona, difenilhidantoina, clonazepam, ácido valpróico, carbamazepina, parametadiona, e clorazepato dipotássico (CHRISMAN, 1997), topiramato, lamotrigina, levetiracetam, zonisamida, gabapentina e felbamato (PODELL, 2004). Contudo a difenilhidantoína, o ácido valpróico, a carbamazepina não apresentam farmacocinética apropriada para cães e gatos, sendo portanto contra-indicadas.
O topiramato usado em combinação com o fenobarbital ou brometo de potássio, mostrou-se eficaz no controle de crises epilépticas de difícil controle em cães e é, portanto uma opção terapêutica para o tratamento de cães com epilepsia refratária (ADEODATO, 2005). Além de anticonvulsivante, a gabapentina pode ser usada para o tratamento da dor neuropática (MOREIRA, 2005).

Ainda não está bem comprovado o efeito protetor do tiopental e do pentobarbital sobre estruturas encefálicas envolvidas em estados convulsivos refratários.
Caso tenha sido administrado benzodiazepínicos ou fenobarbital a dose dos barbitúricos é de 3-15 mg/kg IV (SILVA et al., 2006).
Barbitúricos como: tiopental e pentobarbital têm demonstrado diminuir a pressão intracraniana depois de injúrias cerebrais devido à redução da demanda de oxigênio e glicose dos tecidos nervosos, acompanhando com isto a redução do fluxo sanguíneo cerebral devido à diminuição da pressão arterial e aumento da resistência vascular.
Deve-se dar preferência ao pentobarbital ao invés do tiopental, pois o índice de mortalidade com o tiopental é maior.
 O coma por pentobarbital deve ser induzido com a dose inicial de 3-5 mg/kg. O objetivo da terapia com barbitúricos é minimizar a atividade elétrica do encéfalo com a manutenção de adequada pressão sistêmica sanguínea (BULLOCK, 1995).

Isabelle Valente Neves1∗; Eduardo Alberto Tudury2; Ronaldo Casimiro da Costa3
 
1 Médica Veterinária Autônoma. E-mail: isabellevalente@hotmail.com

2 Professor Adjunto, Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE. E-mail: tudury@nelore.npde.ufrpe.br
3 Professor de Neurologia e Neurocirurgia da The Ohio State University. ,E-mail: ronaldo.dacosta@cvm.osu.edu

Ciências Agrárias, Londrina, v. 31, n. 3, p. 745-766, jul./set. 20101