quarta-feira, 18 de maio de 2011

MANEJO DA CAQUEXIA PARANEOPLÁSICA EM CÃES E GATOS.


A caquexia cancerosa é indubitavelmente a síndrome paraneoplásica mais comum em medicina veterinária
(OGILVIE; VAIL, 1990; OGILVIE; MOORE, 1995; PUCCIO; NATHANSON, 1997).
Segundo Ogilvie et al. (1997) há uma perda involuntária e progressiva de peso, que ocorre mesmo com a entrada adequada de nutrientes e é uma consequência devastadora da malignidade (VAIL et al., 1990). A caquexia paraneoplásica é importante, pois ao se comparando com pacientes com neoplasias semelhantes, mas sem caquexia, nota-se que essa síndrome piora a qualidade de vida, diminui a resposta ao tratamento e reduz a expectativa de vida (OGILVIE, 1995).
A síndrome de importância clínica ocorre em até 87% dos pacientes humanos hospitalizados com câncer, havendo a suspeita de que ela afete os pacientes veterinários em porcentagem similar (OGILVIE, 1993; OGILVIE; MOORE, 1995; PUCCIO; NATHANSON, 1997).
As anormalidades no metabolismo de carboidratos, proteínas e lipídios em animais e humanos com caquexia
por câncer podem levar a sérias debilidades e morte antes da escolha da terapia adequada (OGILVIE; VAIL, 1990). Essas alterações metabólicas podem persistir nos pacientes com remissão do tumor e recuperação clínica. As consequências dessa caquexia são: resposta e toxicidade aumentadas à radiação, à cirurgia, à quimioterapia e aos fármacos ou procedimentos auxiliares (KRISHNASWAMY, 1988).
Para a obtenção de energia, os tumores metabolizam preferencialmente a glicose (carboidrato), por meio da glicólise anaeróbica, levando à formação de lactato como produto final (VAIL et al., 1990; OGILVIE et al. 1993). Os animais com neoplasia ainda gastam energia para converter parte desse lactato em glicose novamente (ROUDEBUSH et al., 2004). O resultado final é um ganho total de energia pelo tumor e uma perda total de energia pelo doente.
Em um estudo realizado por Vail et al. (1990), a hiperlactatemia que foi observada nos cães com linfoma tornou-se mais pronunciada quando a solução de Ringer Lactato foi administrada. Quando o aumento nas concentrações elevadas de lactato durar algumas horas, o estado caquético do animal pode piorar (OGILVIE, 2004).
Carboidratos solúveis podem aumentar os níveis de insulina, e contribuem para um aumento na produção de lactato. Assim, os carboidratos solúveis devem ser minimizados na matéria seca dos alimentos (ROUDEBUSH et al., 2004).
Fontes de fibras solúveis e insolúveis são importantes para ajudar na manutenção do funcionamento intestinal, principalmente em animais submetidos à quimioterapia, radioterapia ou cirurgia. Roudebush et al. (2004) recomendam níveis de fibra bruta maiores que 2,5% da matéria seca na ração.
Na caquexia paraneoplásica, a degradação de proteínas geralmente excede a sua síntese, resultando em um balanço negativo de nitrogênio (OGILVIE; VAIL, 1990). Esses pacientes possuem uma perda de massa corporal, diminuição na síntese de proteínas e balanço de nitrogênio alterado. Um aumento na expressão da protease ubiquitina é a maior causa de perda de músculos esqueléticos em pacientes com neoplasia pela ação proteolítica (JAGOE; GOLDBERG, 2001; INUI, 2002; LANGHANS, 2002).
A perda líquida de proteínas provoca diminuição na imunidade humoral mediada por células, na função gastrintestinal e na cicatrização de feridas. A perda de proteínas corporais manifesta-se clinicamente como atrofia dos músculos esqueléticos, hipoalbuminemia, velocidade reduzida na cicatrização e infecções frequentes. Assim, os pacientes com câncer têm alterações no metabolismo proteico que podem gerar sérios riscos à saúde.
Os níveis de proteína devem exceder os indicados para a manutenção de animais adultos, pois os animais com neoplasia possuem alterações no metabolismo proteico e podem sofrer perda de massa magra muscular (OGILVIE; MARKS, 2000). Os níveis de proteína devem ser 30 a 45% da matéria seca de alimentos para cães, e 40 a 50% para gatos com neoplasia (ROUDEBUSH et al., 2004).
A arginina é um aminoácido essencial que, quando adicionado a soluções parenterais, reduz o crescimento tumoral e o índice metastático em modelos tumorais com roedores (YE et al., 1992). Um aumento do nível de arginina influencia nos sinais clínicos, na qualidade de vida e no tempo de sobrevida de cães com câncer. O mecanismo exato através do qual a arginina beneficia os pacientes com câncer não é conhecido, mas segundo ROUDEBUSH et al. (2004) deve incluir modulação da resposta imune ou alteração na resposta neuroendócrina.
A maior parte da perda de peso nos cães e seres humanos com câncer deve-se à depleção da gordura corporal. Como a insulina normalmente aumenta a síntese de triglicerídeos no tecido adiposo e diminui a lipólise, a resistência a esse hormônio, identificada em animais e seres humanos com neoplasia, favorece a diminuição na síntese de lipídios e o aumento na lipólise que ocorre na caquexia cancerosa.
Alimentos com quantidade moderadamente maior de gordura são melhores para animais com neoplasia do que alimentos ricos em carboidratos, pois algumas células tumorais têm dificuldade de usar lipídios como fonte de energia, enquanto o animal com o tumor continua utilizando essa fonte energética. Os ácidos graxos das séries ômega-3 (ácido eicosapentanóico e ácido docosahexaenóico) são os principais nutracêuticos a serem considerados para animais com neoplasia. A suplementação com esses agentes inibe a lipólise e a degradação de proteínas musculares associadas com a caquexia em muitos modelos animais (OGILVIE, 2004).
O paciente neoplásico deve receber alimentação via oral sempre que possível. Cães e gatos adultos com o trato gastrintestinal funcional e com histórico de nutrição inadequada por 5 a 7 dias, ou que tiveram perda de 10 % do peso corporal em 1 a 2 semanas, são candidatos a receber nutrição pela via enteral (WEELER; McGUIRE, 1989). Métodos para estimular o consumo alimentar, incluindo uso de estimulantes químicos como os derivados benzodiazepínicos (diazepam, oxazepam) podem ser tentados (OGILVIE; VAIL, 1990). Quando a alimentação pela via oral não for possível, é necessário o uso de tubo nasogástrico, gastrostomia ou jejunostomia (OGILVIE; VAIL, 1990).
Os animais que estão incapazes de absorver nutrientes pelo trato gastrintestinal podem receber nutrição parenteral para suprimento de suas necessidades nutricionais diárias.
As soluções parenterais geralmente são compostas de dextrose, aminoácidos e lipídios. Dextrose é uma grande fonte de calorias que deve ser administrada com esquema de aumento gradativo para prevenir o aparecimento de sinais adversos como náusea, vômito e diarréia.
Caso haja suspeita de insuficiência renal ou hepática, os níveis de aminoácidos fornecidos deverão ser reduzidos. A adição de emulsões lipídicas em soluções parenterais é válida, considerando que o paciente com tumor geralmente é capaz de converter lipídios em energia. (DEMPSEY; MULLEN, 1985).

Arq. Ciênc. Vet. Zool. UNIPAR, Umuarama, v.12, n.2, p. 157-162, jul./dez. 2009

Interessante este artigo, não sabia da restrição em usar a solução de Ringer Lactato em pacientes com linfoma. A arginina é benéfica no metabolismo das proteínas, assim de imediato só me recordo do medicamento humano Ornitargin®, que possui apresentação em comprimidos, flaconetes (facilita administrar por sonda) ou injetável. No caso do metabolismo dos lipídios, o ácido graxo ômega 3 é benéfico, porém lembro que o professor Jorge Luís Castro que ministrou o módulo de oncologia do curso da qualittas, mencionou que o ômega 6 é prejudicial, pois ele é vasogênico ("forma"novos vasos sanguíneos) o que promoveria a disseminação e a nutrição de tumores. Como a maioria dos suplementos que contém o ômega 3 também contém o ômega 6, cabe uma maior atenção ao receitar tal substância.

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