quarta-feira, 1 de junho de 2011

UVEÍTE PIGMENTAR DO GOLDEN RETRIEVER

Estudo de caso do Veterinary Ophtalmology (2000) 3, 241-246. John Sapienza; Francisco Domenech; Angeles Prades-Sapienza. O artigo foi gentilmente cedido pela Dra. Paula Diniz Galera, DVM, MSc, PhD
Profª Adjunta de Cirurgia Veterinária - FAV/UnB/Brasil
Pos-doctoral student - University of Florida.


OBS: Aos colegas oftalmologistas veterinários, quaisquer erros ou expressões inadequadas consequentes do processo de tradução, favor encaminhá-los na parte de comentários ou pelo e-mail da seção perfil. Grato. Boa leitura! 

A uveíte não associada às desordens sistêmicas ou agentes infecciosos é frequentemente observada em cães Golden Retriever. A uveíte pigmentar é supostamente hereditária nesta raça e apresenta-se como aderências entre a íris e o cristalino e um borrão de pigmento ("pigment dispersion") presente na periferia da íris e córnea através da cápsula anterior do cristalino.
Recentemente, um relato de Deehr e Dubielzig demonstrou que 13 de 25 cães Golden Retriever com glaucoma tinham evidências histológicas de cistos epiteliais iridociliares, e estes podem predispor os cães afetados a desenvolverem glaucoma.
Os objetivos deste artigo são mostrar vários casos de uveíte primária do Golden Retriever e mais adiante estabelecer a relação da presença de cistos iridociliares com o glaucoma secundário nessa raça.
Materiais e métodos:
Relatos de 75 cães da raça Golden Retriever (39 fêmeas castradas, 32 machos castrados e 4 machos inteiros) com uveíte associada a nenhuma doença sistêmica após prévio exame físico e sorológico para erliquiose, febre maculosa e borreliose estavam disponíveis para avaliação.
Pigmento presente na cápsula anterior do cristalino disposto de forma radial ou multifocal associado ou não a cistos da úvea, foi considerado o sinal clínico inicial mais frequente (figura 1).
Todos os cães receberam avaliações oftálmicas completas com biomicroscopia por lâmpada de fenda, oftalmoscopia indireta, tonometria de aplanação e gonioscopia.
Ao primeiro exame apenas 9 cães apresentaram alterações em um olho, posteriormente um desses cães apresentou uveíte bilateral.
A faixa etária dos pacientes foi de 4 anos e meio a 14 anos e meio, com média de 8 anos e meio.
Visíveis cistos iridociliares foram observados em 13,3% dos casos e um caso de cisto uveal preenchido por sangue foi identificado, sendo que o sangue levou 5 meses para ser reabsorvido pelo organismo (figuras 2 e 3).
De 142 olhos, 52 apresentavam formação de fibrina na câmara anterior e com o passar do tempo, 19 olhos desenvolveram glaucoma (figura 4).
O diagnóstico de glaucoma  foi realizado em 66 olhos e foi baseado nos sinais clínicos de estrias corneanas, buftalmia, atrofia do nervo óptico com ou sem aumento da pressão intra-ocular.  Trinta e oito olhos já apresentavam o problema na primeira inspeção dos pacientes e o tempo médio em que os outros olhos desenvolveram glaucoma foi de 9.4 meses.
Dos 4 casos em que houve enucleação do globo ocular, 3 demonstraram evidências de cistos epiteliais iridociliares. Também foram observados cistos aderidos à cápsula anterior do cristalino que se espalhavam até a câmara posterior.
A terapia utilizada nos pacientes teve como objetivo combater a uveíte e minimizar a ocorrência de glaucoma. Nos casos em que houve a formação de fibrina na câmara anterior, foi utilizada a prednisolona tópica e injeções subconjuntivais de betametasona. AINES tópicos foram prescritos mas resultaram em aumento da pressão intra-ocular.
O tratamento medicamentoso para o glaucoma incluiu timolol, dorzolamida e diclorfenamida oral, porém foram ineficazes em controlar o aumento da pressão intra-ocular em todos menos um cão. Apesar do tratamento conservador e cirúrgico, 46% dos olhos examinados ficaram com perda de visão pelo glaucoma.
O prognóstico desta uveíte de caráter progressivo é reservado, principalmente nos casos avançados que apresentam sinéquia posterior e formação de fibrina.
O glaucoma de ângulo fechado secundário aos cistos do corpo ciliar e da íris parece ter um papel hereditário autossômico dominante.
Mais investigações para definir o papel dos cistos iridociliares em cães Golden Retriever são necessárias (primeiro ocorre a formação do cisto e depois a inflamação, ou vice-versa??).    

Esquema simplificado da anatomia do olho.


Pigmentação presente na cápsula anterior do cristalino em orientação radial.













Pigmentação da cápsula anterior do cristalino com cistos iridociliares sobrepostos

Cisto uveal preenchido por sangue localizado na câmara posterior.

Grande tampão de fibrina localizado na câmara anterior aderido à cápsula anterior do cristalino.
Múltiplos cistos iridociliares presentes na margem anterior da pars plicata*


 * Corpo Ciliar: É uma região rica em fibras musculares que apresenta funções múltiplas. O corpo ciliar divide-se em dois segmentos: o anterior, “pars plicata” e o posterior  “pars plana”. Na pars plicata encontram-se : os processos ciliares, responsáveis pela produção de humor aquoso  e que  também servem de sustentação para   zônula além dos músculos ciliares, que controlam a acomodação do cristalino.


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