sábado, 6 de abril de 2013

LIPIDOSE HEPÁTICA FELINA.


Texto retirado e traduzido do 36º Congresso Veterinário Mundial de Pequenos Animais, realizado de 14-17 de Outubro de 2011 em Jeju, Coréia. 

Autora: P. Jane Armstrong, DVM, MS, MBA, Diplomate ACVIM ; University of Minnesota, St. Paul, MN, USA. 


. Gatos obesos ou acima do peso possuem maior risco de desenvolverem a doença. Os gatos mais afetados estão na idade adulta média (aproximadamente 7 anos) e não há predileção de raça ou sexo. 

. A lipidose hepática pode ocorrer secundariamente a qualquer doença que resulte em uma significativa perda do apetite. O período de anorexia pode ser curto, de dois a sete dias. A lipidose hepática pode ocorrer em gatos saudáveis que voluntariamente passam por episódio de restrição calórica (rejeição de ingesta de nova ração).

.  Achados clínicos comuns: hipocalemia severa (marcante fraqueza muscular), encefalopatia hepática, icterícia, hepatomegalia não dolorosa e hiperecogenicidade do fígado.

. Os achados laboratoriais mais consistentes são: poiquilocitose, corpúsculos de Heinz, anemia moderada, hiperbilirrubinemia, hipoalbuminemia, e aumento na atividade da fosfatase alcalina sérica. O diagnóstico é normalmente confirmado pela citologia aspirativa com agulha fina. A biópsia hepática deve ser evitada em razão do risco de hemorragia, pois o fígado está gorduroso e friável. 

. A recuperação dos gatos com lipidose hepática inicialmente requer a correção das anormalidades hidroeletrolíticas, mas a terapia principal é baseada no suporte nutricional enteral.

. A atenção imediata deve ser dada à reidratação e correção dos desequilíbrios eletrolíticos, resultantes de vômito e da desnutrição. Hipocalemia e hipofosfatemia são causas importantes de morbidade. A hipocalemia pode persistir mesmo que o potássio esteja sendo apropriadamente suplementado, em face de concomitante hipomagnesemia.

. A fluidoterapia com dextrose é contraindicada, pois os gatos com lipidose hepática são intolerantes à glicose. Suspeita-se que em alguns gatos com lipidose hepática o metabolismo do lactato fique comprometido. Para alguns autores, esses gatos não podem, também, ser submetidos à fluidoterapia com a solução de Ringer com lactato. Apesar desse conceito acadêmico, a solução de Ringer com lactato é rotineiramente empregada com sucesso.

. A alimentação enteral deve ser iniciada o mais cedo possível e mantida até que o paciente se alimente por conta própria. A alimentação forçada por seringa possui benefício limitado, devendo ser tentada por um curto período de tempo em gatos que estão afetados de forma branda. Estimulantes de apetite não são recomendados.

. A proteína é o nutriente mais eficiente para reduzir o acúmulo de lipídios no fígado de gatos com balanço energético negativo. A restrição protéica é contraindicada, exceto quando o paciente possui também a encefalopatia hepática. Dietas com grandes quantidades de carboidratos podem causar diarreia, hiperglicemia, cólicas abdominais e borborígmos. 

A dieta ideal para alimentar gatos com lipidose hepática deve ser rica em proteína (30 a 40% da energia metabolizável), moderada em lipídios (aproximadamente 50%) e relativamente pobre em carboidratos (<20%).

. Outras considerações terapêuticas:

- terapia antiemética: os antieméticos geralmente facilitam a reintrodução da comida. Os vômitos podem ser reduzidos pela mínima manipulação do gato durante e imediatamente após a sua alimentação. A metoclopramida é o fármaco de primeira escolha devido a sua disponibilidade, baixo custo e efeitos procinéticos. O controle da êmese pode ser obtido pelo uso do maropitant, dolasetrona ou ondansetrona. 

- terapia com cobalamina: a avaliação das concentrações plasmáticas de vitamina B12 (cobalamina) em gatos com lipidose revelou que 40% possuíam valores abaixo do normal. A deficiência de cobalamina pode ser severa o suficiente para produzir sinais clínicos tais como: ventroflexão do pescoço e anisocoria. A via de escolha para suplementar a vitamina B12 é a subcutânea, uma vez por semana por seis semanas.

- tratamento das desordens de coagulação: a deficiência de vitamina K é frequentemente suspeitada em gatos com lipidose hepática. No caso de as anormalidades de coagulação ser suspeitadas, o paciente necessitará de três doses de vitamina K1 (0,5 – 1,5 mg/kg pela via subcutânea ou intramuscular a cada doze horas). Esse tratamento é particularmente importante se necessária a biópsia hepática.

. Alguns pesquisadores preconizam que os gatos portadores de lipidose hepática devem ingerir 250mg ao dia de L-carnitina para promover a oxidação dos ácidos graxos e manter a massa magra corporal, não havendo ainda amplo consenso sobre tal procedimento.

. Gatos com lipidose possuem baixa concentração de glutationa hepática, ocasionando pouca atividade antioxidante, sendo assim, certos autores recomendam a administração do SAMe (40mg/kg, via oral a cada 24 horas).

. Os gatos que se encontram com recuperação favorável, demonstram uma redução gradual das anormalidades presentes nos exames laboratoriais. A concentração de bilirrubina total deve reduzir em mais de 50% dentro de 7 a 10 dias, mas as enzimas hepáticas podem permanecer com valores próximos daqueles encontrados no momento da admissão do paciente para internação. As sondas de alimentação podem ser mantidas por várias semanas. O proprietário do animal torna-se, assim, um participante ativo na recuperação do seu bichano. A reincidência da lipidose hepática felina é pouco comum. 




Mucosa oral ictérica. A presente foto não faz parte do artigo acima, foi pesquisada na internet no site: http://veterinariadefelinos.blogspot.com.br/2010/08/lipidose-hepatica.html












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